Este povo numeroso é constituído por migrantes que falam o idioma guarani e vivem em espaços tornados próprios aglutinados em grandes famílias.

Os Guarani têm se definido como aldeãos agricultores governados por meio de grandes assembleias, denominadas de aty. Sua religião se expressa por meio do canto, da dança e da escuta da palavra inspirada. Ao mesmo tempo que formam um povo, são também muito diferentes em um território que se estende pela Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai. Sua dispersão foi o resultado da busca de uma terra boa para viver em liberdade. São um povo histórico, muitas vezes afetados pelo genocídio, resistem e insistem em ser memória de nosso futuro, nos dizeres do estudioso Bartomeu Meliá.

De acordo com os linguistas, este povo faz parte do tronco tupi que teria se desenvolvido entre os rios Ji-Paraná e Aripuaná, tributário do Rio Madeira e Amazonas. Calcula-se que o tronco linguístico tenha se desenvolvido há cinco mil anos atrás. O professor Aryon D’Aligna Rodrigues (1964) esclareceu que quase todas as línguas tupi conhecidas se encontram na região do alto rio Guaporé. Este fato indica que a difusão proto-tupi ocorreu a partir desta região.

Por diferentes caminhos, os Guarani dispersaram-se e chegaram até o Atlântico e à região ao norte do rio Paranapanema, além dos cursos de água do Rio da Prata, mais ao sul. Nas terras mais apropriadas, plantam preferencialmente milho e mandioca branca e amarga. Para tal, desenvolveram artefatos em cerâmica para retirar o ácido venenoso da mandioca e produzir a farinha para elaborar o mbeju.

Este dinamismo migratório dos Guarani, um povo que caminha, recebeu várias interpretações. Uma das teorias para o significado deste nome identificou o termo guarini, guerreiro, mas que não se sustenta, pois a raiz da palavra é guara, parcialidade, região, lugar de onde se é, como registrou Antonio Ruiz de Montoya (1639). A história registrou muitos casos de ocupação de territórios, antigamente habitados por outros povos, mediante guerras, assimilação e escravização dos derrotados. Assim, o povo guarani não constitui uma “raça” e a mestiçagem étnica e cultural nunca foi negada.

Os muitos contatos deste povo apenas aperfeiçoaram sua tecnologia própria, mas não alteraram seus comportamentos habituais. Uma das evidências desta adaptação foi atestada pelas evidências arqueológicas de cerâmica, coletadas por Francisco Noelli (2004), que indicam traços não-guarani e guarani nas mesmas peças.

Embora haja a hipótese de que as migrações Guarani, o roguatá, sejam motivadas pela guerra, Nimuendajú e Metraux indicaram que o motivo mais forte seria o religioso, a busca de uma terra sem mal, yvy marañe’ỹ, um lugar fértil, adequado às necessidades materiais e condição para o bem-viver, lugar este até hoje negado pela cobiça econômica.

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