Os Accllahuasi, do quíchua Casa das Escolhidas, eram edifícios residenciais das acllas, presentes em todos os centros provinciais do Império Inca, Tahuantinsuyu. Nestes locais viviam mulheres especializadas em atividades produtivas que fabricavam tecidos, preparavam chicha e prestavam serviços ao Estado.
Estes edifícios foram comparados erroneamente por alguns cronistas com os conventos cristãos, pois suas moradoras eram preparadas para o serviço do Deus-sol, Inti. A historiadora Maritza Villavicencio publicou uma pesquisa “Mulher, poder e alimentação no Antigo Peru” na qual demonstra a importância das mulheres indígenas na economia e sua participação na administração.
A obra menciona um encobrimento do papel feminino na história, inclusive em relação à sua participação no sustento dos grupos participando inclusive das expedições de caça de grandes animais. Segundo a historiadora, cerca de 70% da dieata alimentar paleolítica era garantida pelas mulheres que tiveram papel destacado em 50 mil anos de história ao menos.
A hipótese da historiadora é que o Império Inca era uma composição de duas estruturas de poder: uma feminina e outra masculina. Os Acclahuasi, erguidos em todos os territórios conquistados, seriam o fundamento desta tese. As mulheres que viviam nas Acclas eram consideradas divinas e as pessoas as procuravam para que intercedessem junto ao Inca. Eram elas quem organizavam os rituais mais importantes. Estas casas eram habitadas pelas Acclas e Mamaconas, as dirigentes. Ao longo do caminho inca, Qhapaq Ñan, foram identificadas 40 destas casas.
A tradição das Acclas é anterior aos incas e comprovada arqueologicamente pelos achados dos túmulos do que se acreditou serem apenas sacerdotisas das culturas Mochica, Lambayeque e Chimú. As pesquisas nestes sítios demonstraram que foram sacerdotisas e governantes de alto nível.
Estas governantas possuam domínios extensos, possessões e poderes considerados divinos. A Senhora de Cao, por exemplo, carregada na indumentária os símbolos da serpente, representando a água, e aranhas, fazedora do universo na mitologia inca. As antigas sociedades peruanas outorgaram grandes poderes às mulheres. O cronista Guamán Poma de Ayala relata que Mama Ocllo Huaco, a verdadeira esposa de Manco Cápac, foi a fundadora do Império Inca. Era ela quem mandava Manco Cápac acalmar os ânimos nas guerras e dirigia o Estado em Cusco. Outro ponto a se destacar é que as riquezas das mulheres eram herdadas e administradas unicamente por mulheres.
O império inca tinha várias posições femininas de poder: Collas, Acclas, Mamaconas e Inhacas. Além destas funções, Guamán Poma de Ayala relatou que havia uma grande senhora governante para cada uma das quatro regiões administrativas, suyu, do Império Inca. Mama Ocllo (Mama Uqllu em quíchua) era considerada filha do sol e deusa da lua, fertilidade, casamento e das mulheres.
São necessárias mais pesquisas sobre o papel destas mulheres que agregaram ao seu nome o termo Cápac, grande líder.

REFERÊNCIA E FONTE:
BOSLEMAN, D. S. La Importancia de la Mujer y Soberanas en el Antiguo Peru. El Comercio, 2018.

IMAGENS:
REUTERS. Rosto Reconstituído da Senhora de Cao. 2018.
MAMA OCLLO. Retrato. Coleção de Manuscritos da Biblioteca Lilly da Universidade de Indiana.

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