Um AA indígena confirma que, sendo mais um, cada membro importa, em cada grupo.

Olá, sou Cornélio, índio terena com 84 anos de idade. Aos seis anos, vim da aldeia La Lima, em Miranda (MS) para morar aqui na Terra Indígena Nioaque (TIN), na aldeia Brejão.

Aos 17 anos, fui servir o exército, na cavalaria, em Bela Vista (MS). Depois de minha baixa, trabalhei em fazendas, em serviços braçais. Aos 23 anos, casei-me com Petronília, minha esposa até hoje. Tenho oito filhos vivos e dois que já faleceram.

Sou lavrador, agora aposentado. Antigamente, aqui, não tínhamos igreja. O chefe da tribo chamava o padre da cidade para evangelizar e batizar os moradores. Tínhamos os rituais da cultura indígena, fazíamos o batismo simbólico do recém-nascido na própria casa dos pais, sem a presença do pároco.

Poucos indígenas eram alfabetizados, mas havia escola e professores para alfabetizar. Vivíamos da caça, pesca e agricultura de milho, amendoim, feijão, arroz, abóbora, batata-doce, cana de açúcar e, principalmente, mandioca. Domesticávamos animais de pequeno porte, como porcos do mato e capivaras.

Aos 26 anos, comecei a beber, então, teve início a destruição da minha vida. Quase me separei da esposa por causa da embriaguez crônica, ninguém confiava mais em mim. Gastava em bebida todo o dinheiro que ganhava com meu trabalho.

Até que, um dia, minha mulher ficou sabendo de um programa na aldeia, chamado Alcoólicos Anônimos. Com ajuda de outras pessoas, fui conhecer este programa, participando das reuniões sem saber se daria certo ou não. Descobri um grupo de homens e mulheres reformulando suas vidas e ajudando outras pessoas a se libertarem do alcoolismo. Era o que necessitava! Pensei: encontrei uma saída!

Vendo entusiasmo da minha mulher e dos meus filhos, ingressei nesse mesmo grupo. Hoje, sou feliz e grato por ter encontrado essa porta aberta. Hoje, o que não fui para a sociedade sou para Alcoólicos Anônimos: a pessoa mais importante. Renasci no Grupo Indígena Brejão de A.A. Desejo a todos aquilo que encontrei aqui. Cornélio, T.I. Nioaque, MS.

Fonte: Vivência. Revista Brasileira de Alcoólicos Anônimos Ano 34 – Número 6 I Nov I Dez I 2019 I Edição 182. P. 44 – 45.

Tags: AA, indígena

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