yporu, dilúvio universal.
Sousa, N.M.[1]
A primeira terra, Yvy Tenonde, criada por Nhande Ramõi Jusu Papa, foi destruída a primeira vez e recolhida definitivamente em outro lugar após um grande cataclisma, o dilúvio, chamado de Yporu, Yvy Ru’ũ ou Y Ojaparó.
A narrativa foi pesquisada por Moacir Ribeiro de Carvalho nos textos Tupi (1987), registrada por Leon Cadogan (1959) entre os Guarani-Mbya, por Kurt Nimuendaju (1910) entre os Guarani-Apapocuva e por Telêmaco Borba entre os Cainguá (1908).
O herói, protegido de Tupã, que salvou sua família da tragédia foi Tamanduaré (Tupi), Aré (Caingua), Guyrapotý (Apapocuva) ou Tapari (Mbya), conforme a fonte.
A história Guarani-apapocuva do Dilúvio está relacionada à criação da terra. Antes de criar a terra, Ñande Ramõi Jusu Papa ergueu seu esteio, yvy-itá, a escora da terra. Colocou uma viga no sentido leste (Nhanderu) a oeste (Tupã) e outra, por cima, no sentido norte (Ára popy) a sul (Jasuka). Pisou então sobre o ponto de cruzamento do esteio, yvyrá joaçá, e encheu os quadrantes da terra. Quando a terra tiver que ser destruída, Ñanderyque’y puxará a extremidade oriental do braço inferior da cruz e a puxará lentamente para leste, enquanto o braço superior permanecerá na sua posição original. Com isso a terra perderá o suporte ocidental. Ao mesmo tempo, o fogo subterrâneo começa a devorar o subsolo a partir borda ocidental; um pouco adiante, suas labaredas alcançam a superfície e o trecho que ficou atrás desmorona com estrondo. De início lenta, depois cada vez mais rapidamente, a destruição avança de oeste para leste.
Os homens, para escapar desta destruição, precisam migrar para o leste na expectativa de cruzar o mar, Paráry, sem passar pela morte e juntar ao criador, mas em sequência ao desmoronamento ocorreram outros infortúnios, Mba’e Meguá, o dilúvio, a queda das trevas e a chegada do Jaguaretê Hovy, a onça devoradora do sol e da lua.
O dilúvio foi o anunciado por cinco anos pelos tremores da terra, grandes trovões e pelo lamento do pássaro Kuchíu, o bem-aventurado. A inundação foi o castigo de Tamadaré por não quebrar várias regras deixadas pelos antepassados para viver bem: faltar às danças para caçar, comparecer nu num ritual e outras.
Karai Jeupie, como era também conhecido Tamanduaré, afastou-se de seus pais, não resistiu às fraquezas, e casou com a irmã de seu pai. A partir de então, começaram os tremores da terra. Quando as águas já estavam muito próximas, ele fez ouvir sua súplica, cantou seu canto e dançou sua dança. Neste momento, chegou a inundação, mas Jeupie e sua esposa não conseguiram subir ao paraíso, pois não estavam leves o suficiente e não tinham alcançado a perfeição, o aguyjê. Começaram a nadar e continuavam com seu canto que lhes deu forças para continuarem por duas luas até chegar onde estava a palmeira eterna. Agarrando-se ao seiu tronco sobreviveram à inundação, alimentaram-se dos seus frutos e conseguiram subir à morada dos heróis imortais, Tupã Mirî, para onde havia sido recolhida a primeira terra, Yvy Tenonde. Alí, foi transformado no pai dos pequenos deuses, Tupã Mirî, e seu nome foi mudado de Jeupie para Tapari.
A narrativa do Dilúvio universal também foi contada pelo povo Maya e está presente no Popol Vuh, o livro do conselho da comunidade. Segundo o relato, a humanidade foi atacada a destruída por grandes bonecos de pau e na sequência uma grande inundação foi produzida no coração do céu, um grande dilúvio se formou e caiu sobre suas cabeças. Foram mortos porque não falaram com o formador que os havia criado. Não pensaram em seu pai e sua mãe. O nome do coração do céu é Furacão. Por esta razão o céu escureceu e a chuva negra caiu sem parar dia e noite.
REFERÊNCIAS E FONTES:
CADOGAN, León. Ayvu Rapyta. São Paulo: USP, 1959.
CARVALHO, Moacyr Ribeiro de. Dicionário de Tupi. Salvador, 1987.
CLASTRES, Pierre. La Palavra Luminosa. Buenos Aires: Ediciones del Sol, 1993.
Lévi-strauss, Claude. Mitológicas 1. São Paulo: Cosac & Naify, 2011.
NIMUENDAJÚ, K. As Lendas da Criação e Destruição do Mundo. São Paulo: EdUSP, 1987.
IMAGENS:
YAMPEY, Girala. El Diluvio Guaraní. 2013.
Curió
Dilúvio Maya
Metadados:
Dilúvio, kuchíu, popol vuh,
[1] Doutor em educação pela UFSCar. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
Tags: dilúvio
Bem-vindo a
Laboratório de Pesquisas em História e Educação Indígena
© 2025 Criado por neimar machado de sousa.
Ativado por