Yalitza Aparicio é uma atriz e professora mexicana que se tornou mundialmente conhecida após atuar no filme Roma de Alfonso Cuarón. Foi indicada ao óscar de melhor atriz em 2019.
A atriz é bacharel em educação infantil e, mesmo sem formação como atriz, protagonizou o filme de Alfonso Cuarón e foi indicar ao óscar de melhor atriz. A jovem nasceu em 1993, em Tlaxiaco, Oaxaca, México. Seu pai é do povo mixteca e sua mãe da etnia trique. Aparicio fala espanhol e mixteca.
A indicação da artista levantou desde um sentimento anti-indígena no México e colocou o país diante do próprio racismo, lembrou reportagem do El País. Os jornalistas, após a visibilidade do filme, estão invadindo Oaxaca à procura das origens de Yalitza, a professora rural indígena que ganhou a mídia. O pai e sua avó, quem nem fala espanhol, estão entre os perseguidos. Até um namorado falso de infância apareceu e cobrou pela entrevista.
Foi preciso que o próprio diretor Alfonso Cuarón exigisse que os jornalistas deixassem a mãe e os irmãos de Yalitza em paz. O recado foi repetido pela própria atriz num comunicado à imprensa quanto passou sobre o tapete vermelho.
A trajetória de Yalitza, uma jovem de 25 anos, de reconhecimento mundial só foi conquista por outras três mexicanas. Dezenas de revistas, entre elas a Vogue e Vanity Fair e outras hollywoodianas, contaram sua história como professora normalista.
Entre as informações biográficas levantadas pelas revistas, constam a informação de que a professora de pré-escola estudava das oito da manhã até as quatro da tarde, saía da escola para trabalhar algumas horas como garçonete. Servia as mesas em troca de comida. Após as seis da tarde, trabalhava na recepção de um hotel. Jornada de 12 horas de trabalho e pouco mais que 20 reais por dia.
Um vídeo de um ator mexicano de telenovelas e filmes B vazou nas redes com o comentário: “Absurdo indicarem uma mísera índia que diz ‘sim, senhora’, ‘não, senhora’, e a colocarem na disputa de melhor atriz do Oscar!”. O comentário que espantou alguns, ganhou eco e apoio nas redes sociais para diminuir as conquistas de Aparicio. O ator gravado sem saber precisou se desculpar em público.
O filme Roma tratou justamente disto, o arraigado racismo no México atual. É a chance para discutir o tema nas famílias e tomar atitudes empresariais e legislativas, lembra o diretor Cuarón.
A película Roma permite lembrarmos do cinema indígena e um grande diretor e produtor boliviano Iván Molina. É a chance para recordarmos de políticas públicas infelizmente descontinuadas no Brasil como o festival Vídeo Índio Brasil que difundiu país adentro filmes e atores indígenas. Havia produções indígenas do Canadá à Terra do Fogo e animou os jovens indígena a contarem histórias de suas comunidades a pessoas que nunca teriam a chance de conhece-las não fosse o cinema.
Outro efeito do vídeo índio Brasil foi o surgimento de coletivos indígenas de audio-visual como é o caso da ASCURI, com muitos títulos produzidos e serviços prestados disponíveis no seu canal do youtube. A indicação de Yalitza ao óscar, lembra da atuação de atores indígenas como Abrisio da Silva Pedro Kaiowá, no filme Terra Vermelha. De produtores de conteúdo e cineastas como Eliel Benites Kaiowá e Gilmar Galache Terena. Permite mencionar estudantes indígenas de cinema como o jovem Kiki Conscianza e animadores como Devanildo Ramires.
Também não devemos omitir o trabalho histórico de projetos de sucesso na formação de outros cineastas indígenas na luta contra o preconceito como o Vídeo nas Aldeias, do cineasta Vincent Carelli e sua obra prima, o longa Martírio. A atuação deste cineasta-indigenista jamais será esquecida pelos povos indígenas com quem trabalhou por uma vida toda.
Mai recentemente, o professor de cinema e antropólogo da UnB, Armando Bulcão também apresentou o resultado de seu trabalho belíssimo de direção e montagem Alma Palavra Alma sobre os resultados do confinamento territorial na Reserva Indígena de Dourados.
Estas histórias não seriam possíveis há 50 anos, quando mestiços e brancos eram disfarçados de indígenas para os estereotiparem nas telas. Era impensável quando os índios eram apresentados apenas como assassinos para promover os heróis da colonização no velho oeste. Que o cinema nos ajude a exorcizar os fantasmas coloniais e anti-indígenas que atormentam nossos modernos países.
REFERÊNCIA E FONTE:
BEAUREGARD, L. P. México: El País, 25 fev. 2019.
IMAGENS:
APARICIO, Yalitza. Secretaría de Cultura Ciudad de México. México, 2018.
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