Num contexto de restrição alimentar causado pelas remoções forçadas, confinamento territorial, comprometimento dos recursos naturais e violento empobrecimento, são comuns as múltiplas narrativas para a fome e suas consequências.
O povo kaiowá conta a história sobre um animal chamado de Tupichúa, um bicho que ora é semelhante a um cachorro, ora assemelha-se a um gato que se aproxima da pessoa e não a abandona mais. Trata-se de uma doença que atinge o desejo da pessoa e que pode ser contraída quando se frequenta um velório sem os devidos cuidados espirituais, pois o Tupichúa é um animal que já esteve vivo e continua entre os vivos para lhes causar mal.
Um dos sintomas de quem contraiu Tupichúa é o desejo descontrolado por comer carne. Se uma pessoa acometida deste mal olhar para alquém que está comendo carne e esta não dividir sua refeição, ele poderá ter dor de dente e conjuntivite. O tupichúa, segundo o líder espiritual Atanásio Teixeira, fica visível nas costas de quem está doente à altura do ombro.
O professor kaiowá Eliel Benites contou que em Caarapó, um jovem e seu pai foram pescar. Enquanto pescavam, tiravam os peixes e jogavam no barranco para trás. Quanto o jovem olhou viu que havia um javali comendo todos os peixes e imediatamente avisou o seu pai que disse: - filho, não faça nada porque este é o Tupichúa. O jovem foi teimoso e matou o javali. Quando voltaram a aldeia Te’ýikue, uma anciã havia falecido, pois aquele Tupichúa era o próprio desejo dela por pescado.
O Tupichúa só pode ser curado com rezas, jehovasa, dos líderes espirituais quando se trata de uma pessoa, mas quando ele se alastra e se transforma numa epidemia social, a única medida a ser tomada é a justiça social.

REFERÊNCIAS E FONTES:
JUCA, Getúlio. Nhanderu Kaiowá. Aldeia Jaguapiru, 2019.
SILVA, Alda. Nhandesy Kaiowá. Aldeia Jaguapiru, 2019.
TEIXEIRA, Atanásio. Nhanderu Kaiowá. Aldeia Limão Verde, 2019.

NOTAS:
1. Pesquisa, organização e adaptação: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação (UFSCar) e pesquisador (FAIND/UFGD). Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
2. O artigo tem objetivo educacional e formato adaptado às mídias sociais.
3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue as fontes consultadas.
4. METADADOS: tupichúa, confinamento, justiça social.
5. IMAGEM: PEDRO, Marildo da Silva. Mbarakaja. Dourados (MS), 2019.

Tags: confinamento, justiça, social., tupichúa

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