A acolhida da diferença, mediante o costume do cunhadismo e outras estratégias, foi uma das instituições sociais indígenas que contribuiu para a formação do povo brasileiro. A Epopeia dos Gêmeos carrega explicação da origem deste costume.

Pa’i Kuará descansou na casa de sua mãe, Ha’i, e depois voltou à terra para salvar o irmão que foi devorado pelo Anhã. Após recuperar, costurar os ossos de Jasy com linha de caraguatá, brilhar diante dele e levantá-lo novamente, os irmãos continuaram a caminhar, mas o mais velho, Nhande Ryque’y, caiu na armadilha de um Anhã. O Diabo aceitou a oferta de casamento com irmã do Sol em troca de sua liberdade.

O Sol criou, omopu’ã, uma jovem bem bonita a partir da cera, araitygwi, e levou-a ao Anhã. Quando chegou à sua casa, disse: - aqui está minha irmã para ser sua futura esposa, remirekorã. E recomendou: - não a deixe do lado do fogo. O Diabo, tão contente ficou, pediu para ela cozinhar e então a noiva derreteu. O Anhã chorou muito e recorreu novamente ao cunhado Pa’i Kuará:

- Minha mulher derreteu inteira, disse o diabo.

- Eu disse para você evitar o fogo, respondeu o Sol. Farei outra noiva mais bonita para você, mas um pouco menor. Volte para sua casa e espere. Amanhã de manhã a levarei para você.

O Sol pegou a cera que havia sobrado e misturou com cinza, criando uma mulher que não derreteu mais e até hoje vive com o Anhã. Depois disso o Sol disse ao irmão menor: - agora, xiryvy, vamos planejar como faremos para matar o Diabo e vingar o sofrimento que ele fez para você, pois ele é bravo e faz o mal.

O Sol foi perseguido pelo Diabo e entrou numa caverna, itakwa. Quando saiu do outro lado, fechou com pedras a saída e, desde então, o Diabo tornou-se morador e prisioneiro deste lugar. O nome da caverna é buraco dos ventos.

O Sol, depois de aprisionar o Diabo na Caverna dos Ventos, torceu tanto o corpo do Anhã que saiu fumaça de sua pele. A fumaça do corpo do Diabo transformou-se em mosquitos, mbarigwi, mutucas, butu, e parasitas que infestam a anta, mberu mborevi raso.

Depois que fez tudo isto, o Sol falou: - vamos embora para a casa de nossa mãe, meu irmão, tyvýra. Os dois irmãos retomaram seu caminho. Andavam e andavam pelas matas, onde faziam mais bichos brilhando diante deles.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de Aniceto Ribeiro. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

Cadogan, León. Ayvu Rapyta. São Paulo: USP, 1959.

Nimuendaju, Kurt. As Lendas da Criação e Destruição do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1987.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: jasy, anhã, tovaja, mbarigwi, mberu, parasitas, mosquito. IMAGEM: EMI PA’i CHIQUITO – CHIQUITO PEDRO. Pa’i Kwará. Dourados: ASIE, 2018;

Tags: anhã, jasy, mbarigwi, mberu, mosquito, parasitas, tovaja

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