Os mitos são histórias narradas oralmente que tem a força de guardar as próprias percepções sobre fatos que ocorreram na trajetória social de um povo, ao mesmo tempo em que profetizam sobre o que ainda está por vir.

No dia em que os Gêmeos encontraram o Jacu, enviado Xiru Kurusu Nhe’engatu, e este lhes contou quem havia devorado a sua mãe, os meninos voltaram para a casa das onças, pois ventou muito e a caçada de passarinhos não foi boa. A velha onça desconfiada disse:

- Parece que vocês estão chegando do lugar onde os pássaros falam.

- Não fomos lá. Nossa caçada não foi boa por causa do vento. O vento espalha os passarinhos como folhas secas. Nós vamos voltar caçar mais passarinhos.

E os gêmeos não foram caçar realmente, mas estudar como destruir os filhos das onças. Eles fizeram uma fruta muito doce, a guavira pequena, da flor do Kuakuaha, cinto. E trouxeram muitas frutas em seu poxito, camisa. Ofereceram as frutas às onças que já tinham muitos filhos crescidos. Os Jaguarete gostaram muito da Guavira e os gêmeos disseram que havia mais do outro lado do riacho, ysyry.

Este riacho se tornou o mar de hoje e ali os Jaguarete caíram quase todos. É por isso que este rio se chama Agwaráy e não se pode tomar banho nele de qualquer jeito, pois foi o lugar da vingança de Pa’i Kwará.

No dia seguinte, os filhos das onças seguiram os gêmeos em direção ao riacho. Levaram peneira, ajaka e cesta grande, hy’agwasu. Quanto chegaram à beira do rio, os gêmeos disseram para as onças esperar para que atravessem todos juntos. Enquanto isso, os meninos foram fazer um mundéu para destruir a velha onça que havia devorado sua mãe e a cobriu com um cesto.

Jasy fez um mundéu com uma armadilha de sabugo de milho e armou direitinho. Depois disse para a velha onça, veja meu mundéu. Eu sempre entro debaixo dele para conferir se a armação está correta. - Você não pode me ajudar, perguntou a Lua. Os gêmeos disseram para a velha onça que iriam buscar guaravira e trariam para ela também.

Os gêmeos cruzaram juntos o rio e colocaram seus arcos e flechas como uma ponte para as onças cruzarem. Quando as onças estiverem na metada da ponte, vamos retirar as flechas para que elas caiam, combinaram os dois. As onças começaram a atravessar, mas uma delas estava com medo e ficou para trás, pois estava grávida. Esta onça era o futuro Lobo, Agwará Guasurã. Os gêmeos retiraram as flechas e as onças caíram no rio, exceto esta onça que ficou para trás e apenas pisou na água perto do barranco e deu um grande grito: - Gwááá. Deste grito é que vem nome do lobão, Agwará Guasu. Pa’i Gwará disse para a onça: - seja como um lobão em toda a terra.

As outras onças que caíram na água viraram animais aquáticos. Onças marítimas e animais de chifre, todos são descendentes das onças. Neste momento, Pa’i Kwará cantou: Yupá anhaoma, yupá anhaoma tosysy yvy apy arendaja. Tosysy he’i voi ngo, upeagwi enterro arojopy oî ypory há mba’e kuaavy tejaxa uka kuri he’i. Em todos os lagos do mundo viverão, em todos os lagos se moverão, em todos os lagos do mundo existirão para que as pessoas saibam o que fizeram.

São estes animais que avisarão os homens cada vez que um parente vai morrer, esta é a finalidade de sua existência. Depois de tudo, os gêmeos voltaram trazendo um pouco de guavira e, como sabiam de todas as coisas, foram conferir o mundéu que havia pego alguma coisa. Quando chegaram, a lua disse que a velha onça havia caído na armadilha e se transformado em paca, jaixa.

 

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

MEDINA, Rosalina. Mito dos Gêmeos. Assis: UNESP/Revista Terra Indígena, 2000 (1970).

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: jaguarete, agwaráy, ajaka, hy’agwasu, agwará guasurã, jaixa. IMAGEM: Comitê Editorial Cone Sul Ação Saberes Indígenas na Escola. Ka’arovapy. Dourados, MS : Ed. Universidade Federal da Grande Dourados, 2018.

 

Tags: agwará, agwaráy, ajaka, guasurã, hy’agwasu, jaguarete, jaixa.

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