Atahualpa ordenou em 1533 que os tesouros de Cuzco fossem levados a Cajamarca para pagar o resgate a Francisco Pizarro e sua milícia. A nobreza cuzquenha se negou, pois o líder de Quito ordenara a morte de seu irmão Huáscar, líder de Cuzco, e por isso teriam escondido o tesouro num local secreto chamado Paytiti.
A lenda deste reino pré-incaico nasceu da situação histórica da conquista espanhola do Estado inca, chamado de Tawantinsuyu, as quatro regiões na língua Quéchua. O relato está relacionado à tradição oral, segundo a qual Inakarri, depois de ter fundado Q’ero e Cuzco teria se retirado para viver seus dias na cidade de Paytiti, localizada da selva de Pantiacolla, provavelmente perto da fronteira entre Bolívia e Brasil, região do rio Guaporé.
A etnia inca, originária da civilização Tiahuanaco, chegou ao vale de Cuzco no século XIII. Seu primeiro governante foi o lendário Manco Capac. A partir deste vale fértil, começou uma política de alianças e guerras que deu origem a um verdadeiro império no início do século XV.
A lenda de Paytiti baseia-se na memória destas campanhas militares e expedições ao território dos Moxos, cerca de duzentas léguas de Cuzco, na altura da atual Cochabamba, Bolívia. A região, de clima mais quente e húmida, também era habitada por falantes de língua aruak.
Diversos cronistas registraram esta tradição. Um dos mais antigos foi Vaca de Vastro, em 1542, contando as conquistas de Pachacútec junto aos Chunchos e Moxos, onde estabeleceu uma fortaleza junto ao rio Paytiti. Garcilaso de la Vega também menciona estas conquistas territoriais, mas as atribui a Tupác Yupanqui, que havia conquistado territórios “bárbaros” (não falantes de Quéchua) a leste dos Andes na altura do rio Beni, atual Bolívia.
Outras fontes mais precisas sobre Paytiti estão nos textos do padre Diego Felipe de Alcaya, que registram informações de seu pai, morador antigo de Santa Cruz de la Sierra no tempo de sua fundação por Nuflo de Chaves (1561). Segundo o registo no texto Relación Cierta, os parentes de Manco Inca, Guacane e Condori, partiram para a conquista de territórios em Samaypata e na cordilheira dos Chiriguanas, índios falantes da língua guarani. Enquanto isso, Manco levou um exército de oito mil soldados para a região do rio Guapay, onde foi reconhecido como senhor de uma província muito rica, junto à Serra de Paytiti. É provável que esta serra seja a mesma serra dos Pareci, no atual estado de Rondônia, entre os rios Guaporé, Mamoré e Madeira. O interesse do imperador inca pela serra deve-se a uma mentira conveniente e que se tornou lendária, pois Paytiti significa “Aquele Chumbo”.
A lenda de Paytiti era muito oportuna para os caciques antigos lidarem com gente tão ambiciosa como Pizarro, pois o resgate de Atahaualpa não foi suficiente para saciar sua cobiça. Assim, quanto mais longe os espanhóis fossem atrás de riquezas melhor seria e por eta razão eram sempre bem informados nos povoados sobre uma montanha fabulosa de ouro e prata, mas que ficava sempre adiante da vila e muito distante dali.
A febre do ouro era tamanha que chamou até a atenção dos religiosos da Companhia de Jesus. O primeiro missionário, Diego Samaniego, estabelecido em Santa Cruz de la Sierra, escreveu numa carta de 1585 estar convencido de que aquela terra era a porta de entrada para o reino de Paytiti: “se me asentó en el coraçón que Dios me queria para Santa Cruz”.
A lista das expedições para encontrar Paytiti é longa e segue até hoje. Somente em 2011 houve quatro expedições, sendo uma britânica e outra italiana. A história da América parece padecer de uma maldição da cobiça em que se gasta chumbo em busca da prata: plata o plomo?
REFERÊNCIAS E FONTES:
DE LA VEGA, Garcilaso. Comentarios reales de los incas. Lisboa, 1609.
Tyuleneva, Vera. El Paititi en los llanos de Mojos. Cusco, 2011.
IMAGENS: Paraguay, O Prov. de Rio de la Plata: cum regionibus adiacentibus TVCVMAN et Sta. Cruz de la Sierra (Paraguay, Río de la Plata, Tucumán, Santa Cruz de la Sierra). Mapa aproximado de 1600 por Jodocus Hondius (1563-1612).
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