Paraná-puka, mar furado na língua Tupi, atualmente Pernambuco, é um referência ao litoral recortado da antiga capitania da Nova Lusitânia. Como nas demais capitanias, a história indígena testemunha genocídio e resistência.
Este estado é o quarto em número de população indígena. À chegada dos europeus, o nordeste era umterritório ocupado por vários grupos indígenas do tronco linguístico tupi no litoral como os Tupinambá, Tabajaras e Caetés. O interior era habitado por grupos de tronco linguístico Jê, denominados de Tapuias. Os caetés, demonizados após canibalizar o bispo Sardinha, uma população superior a 70 mil índios no século XVI, foram declarados inimigos da civilização em 1562. Atualmente são considerados extintos depois de séculos de escravidão e perseguição implacável do governo Mem de Sá.
A colonização e a inseparável escravidão chegaram pelo litoral. Instalou-se na região a agroindústria do açúcar movida pela mão-de-obra escrava indígena por parte daqueles que não dispunham de capital para importar escravos africanos. Os índios não aceitaram passivamente a escravidão, causando devastação a muitas propriedades em Pernambuco, especialmente os Caetés.
Como a guerra era constante e sistemática, os índios sobreviventes emigraram para longe da costa, mas foram encontradas pelos criadores de gado. Embora esta relação fosse mais amistosa com os criadores, os índios só conseguiam sobreviver em lugares muito ermos e quando não ameaçavam a posse da terra dos fazendeiros. A única proteção que podiam contar eram as missões jesuíticas, mas com sua expulsão em 1759, os índios foram entregues às explorações e injustiças.
Muitos aldeamentos foram organizados em Pernambuco nos século XVIII e XIX. Um deles ficava próximo à cidade de Garanhuns. Os Carapatós, Carnijós ou Fulni-ô foram aldeados em Águas Belas e os Xucuru, em Cimbres. Os Argus estavam espalhados pela serra do Araripe até o rio São Francisco e os Caraíbas, em Boa Vista. Os índios Pankaru ou Pankararu foram aldeados em Taquaritinga, Brejo da Madre de Deus, Caruaru e Gravatá.
As ilhas do Rio São Francisco eram povoadas por grande número de aldeias dos índios Pipiães, Avis, Xocós, Carateus, Vouvês, Tuxás, Aracapás, Caripós, Brancararus e Tamaqueús. Quando suas terras foram alienadas, as aldeias e seus moradores foram desaparecidos forçadamente por resoluções do governo. A memória de muitos grupos se perdeu nas brumas da oralidade.
Na atualidade, há sete grupos indígenas no estado: Fulni-ô (Águas Belas), Pankararu (Petrolândia e Tacaratu); Xucuru (Pesqueira), Kambiwá (Ibimirim, Inajá e Floresta), Kapinawá (Buíque), Atikum (Carnaubeira da Penha) e os Truká (Cabrobó). Os três últimos grupos foram recentemente reconhecidos, conseguindo sobreviver e preservar muitos traços de suas tradições, auto identificando-se como indígenas
São sobreviventes do preconceito e estereótipos para negar-lhes direitos, sendo chamados de caboclos. As figuras do cacique e do pajé sobrevivem em todos os grupos, sendo o toré dançado em todas as comunidades, não apenas como divertimento, mas também na transmissão de traços culturais. Com exceção dos Fulni-ô, nenhum dos grupos conservou o idioma.
A influência indígena na cultura pernambucana foi muito grande. Em Recife, muitos bairros como Parnamirim e Capunga, estão associados à moradia indígena. Muitos problemas desafiam os povos indígenas pernambucanos na atualidade: divisões internas, assédio de traficantes e invasão de terras sagradas.
Apesar das dificuldades, o povo Fulni-ô segue na prática de seus rituais, o Ouricuri, a da sua língua, o Yaathe .
O Ouricuri é um momento de concentração total em Deus. Na abertura é celebrada uma missa pelo bispo da diocese de Garanhuns-PE e a partir do meio-dia a permanência no local é restrita somente aos Fulni-ô. O que pode ser dito é que há uma divisão entre os homens e as mulheres para que ambos se purifiquem espiritual e mentalmente. O objetivo é livrar os participantes de qualquer sentimento que venha interromper a concentração, para que possam desenvolver as responsabilidades estabelecidas pelo ritual.
Liderados pelos caciques e pajés, os Fulni-ô têm no Ouricurí o fundamento da resistência e os costumes ancestrais, como a língua Yaathe, são a base para a prática do ritual.
 
REFERÊNCIAS E FONTES:
GASPAR, L. Índios em Pernambuco. Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar. Acesso em: 02 mar. 2019.
CAVALCANTE, S. Ouricuri. Brasil Indígena, Brasília, D.F., ano 2, n. 11, p. 18-19, jul./ago. 2002.
SÁ, M. A. de. "Yaathe" é a resistência dos Fulni-ô. Revista do Conselho Estadual de Cultura, Recife, Ed. especial, p. 48-54, 2002.
 
IMAGENS:
BEGAY, S. A longa caminhada. Memorial de Bosque Redondo.

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