A onça avó, Jagwaretê Jari, criou como filhos adotivos o Sol e a Lua, Kwarahy e Jasy. O irmão mais velho era forte e protegia o irmão menor espantando os insetos que o importunavam.

O irmão mais velho era muito inteligente e o irmão mais novo era fraquinho. O neto da onça observou que o sol espantava os grilos do corpo de Jasy e disse à sua vó: - seus animais de criação vão sobreviver, não vão morrer.

A avó ficou contente e no dia seguinte os irmãos já caminhavam. Eram muito pequenos, mas já caminhavam. Com um mês da idade fizeram arcos e começaram a caçar perto da casa das onças. Caçacavam passarinhos e alimentavam a onça-avó. Aos poucos, enquanto cresciam, caçar animais maiores e iam mais longe da casa.

Um dia a Jaguaretê Jari, a onça-vó lhes disse: - naquela mata não quero que cacem! O irmão mais velho não disse nada, mas Jasy queria saber o motivo. A lua disse ao sol: - O que tem naquela mata que a avó nos proíbe de ir até lá? O irmão mais velho, tyke’y, disse ao mais novo, tyvýra: - um dia iremos até lá.

Um dia, os gêmeos, apesar da vigilância da onça-avó, deram uma grande volta e foram até a mata. Chegando ali disseram: - Então esta mata era o lugar que nossa avó não queria que conhecêssemos. Agora vamos ver agora o que tem aqui. Foram entrando na mata e Jasy queria ser o primeiro a caçar. Assim que voou o pássaro Jaku, Jasy preparou seu arco, mas o pássaro lhes disse: - vocês estão cuidando de quem matou a sua mãe. Neste momento, o arco de Jasy caiu de sua mão. Os irmãos seguiram pela mata, não matram o jaku, e logo encontraram outro pássaro, o papagaio, Parakau.

Novamente Jasy queria ser o primeiro e colocou-se com seu arco embaixo do Papagaio, mas como esta ave era mais falante, disse: - Vocês gostam de fornecer alimentos àquela que comeu a mãe de vocês. Foram eles que devoraram num banquete a mãe de vocês. Neste momento os gêmeos ficaram sentidos, deixaram os arcos no chão e choraram. Depois, enquanto iam embora, perguntaram ao Papagaio: - o que devemos fazer com quem comeu nossa mãe? Como podemos destruí-los?

O Papagaio aconselhou: - façam um rio e coloquem do outro lado um campo com muitas frutas chamadas de Gwavira. Assim farão uma armadilha, Monde, para as onças. Os gêmeos foram embora e fizeram como aconselhados.

Os gêmeos fizeram o rio, o campo e as frutas. Naquele mesmo dia, à tarde, as frutas já estavam maduras e foram colhidas pelos meninos e levadas numa folha de Piriri para que as onças pudessem experimentar.

- Vejam as frutas que encontramos no campo, disseram às onças. As onças experimentaram e gostaram muito da Gwavira. Pediram mais. Os gêmeos disseram que no dia seguinte poderiam ir buscar.

Antes que o dia amanheceu, os meninos foram ao rio antes das onças e levaram suas flechas para preparar uma armadilha, Monde, sob a forma de ponte.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

CLASTRES, Pierre. A fala sagrada.Campinas: Papirus, 1990.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma das fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
  4. Metadados: tyke’y, tyvyra, monde, nhandesy, kuarahy, jasy, jaguaretê jari. Imagens: GUAVIRA. Guarani e Kaiowá de Paranhos, Professores. Guarani Rembi’uete. Dourados (MS): ASIE, 2019; JAGUARETÊ. Guarani e Kaiowá de amambai, Professores. Pa’ikuara ha Jasy Oikohague. Amambai, 2012.

 

 

Tags: jaguaretê, jari., jasy, kuarahy, monde, nhandesy, tyke’y, tyvyra

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