Depois que os gêmeos fizeram o rio, yry verá, que deu origem ao mar eterno, paráy, e o cruzaram, chegaram a um potreiro bem bonito. Do outro lado do potreiro havia um campo onde os meninos fizeram a guavira com a pimenta da casa das onças.

Os gêmeos levavam muita pimenta, da casa da velha onça, dentro de uma vasilha no interior do bodoque. Dentro de seu bodoque levaram também um pedaço de porongo para fazer o Nambu, que conhecemos como perdiz.

Da pimenta, os gêmeos fizeram a guavira, esta mesma que floresce agora. Quando chegaram ao campo do outro lado do potreiro, a lua disse: - que campo bonito. O Sol disse ao irmão: - meu irmão, dê-me sua pimenta. E a Lua entregou ao Sol um punhado da pimenta que tinha levado. Na saída do potreiro espalharam a pimenta pelo campo e dela fizeram a guavira.

No mesmo campo das guaviras, os gêmeros pegaram o caco de porongo e jogaram dizendo: - sejam como perdizes e vivam nos campos. Os meninos continuaram andando e o pedaço de porongo já estava cantando. Jasy perguntou ao irmão: - Irmão, o que é isso? Essa é a perdiz, gwyrapipopî, respondeu o Sol. É para ser caçada com cachorro, jagua, e servirá de alimento para nós.

E agora, irmão, para onde vamos? Perguntou a Lua. Por aqui, respondeu o Sol enquanto abria um caminho para correr atrás dos passarinhos. Os dois irmãos queriam ir até o lugar dos pássaros que falam, mesmo contra a vontade das onças. Logo chegaram à mata dos pássaros que falam. Foram recebidos pelo avô dos Jacu, que estava rindo: - há, há. Jasy já agachou para atingi-lo com seu arco, mas o Jacu respondeu: Pa’i, não atire em mim. Por que alimenta aqueles que comeram a mãe de vocês?

Esse era o pássaro que fala, Guyra nhe’ê katu. O pássaro contou aos gêmeos que eles forneciam alimento para quem comeu a mãe deles. Como os irmãos haviam matado muitos passarinhos, eles deixaram seu arco no chão, e fizeram todos os passarinhos voarem novamente.

Os irmãos conversaram mais com o avô dos Jacu e decidiram voltar. Naquele dia não mataram mais nenhum passarinho, mas levaram apenas dois para a onça avó. Voltaram pelo mesmo caminho pelo potreiro e o campo das perdizes. Quando cruzavam o campo, acharam muitas guaviras maduras. Jasy perguntou:- o que é isso, meu irmão? Isso é guavira. E é bom para comer? Sim, mas precisam ser colhidas enquanto se canta e consumidas após benzidas com nhembo’ê. Depois que as frutas foram benzidas, os irmãos comeram tanto qu ficaram até de joelhos, contou o sr. Cirilo Rossate, ancião kaiowá de Amambai, MS.

Até hoje, os índios gostam muito de guavira porque elas serviram de alimento para Pa’i Kuará. Depois de satisfeitos com as guaviras, os gêmeos juntaram algumas frutas e levaram apenas para a onça avó, pois os que haviam devorado sua mãe eram muito numerosos.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

Garcia, Wilson Galhego; Ribeiro, Aniceto. Cinco versões dos mitos dos gêmeos entre os Kaiová, Terra Indígena, n. 82: 11-201. out 2000.

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: sol, lua, perdiz, jagua. IMAGEM: Guavira.

 

Tags: jagua., lua, perdiz, sol

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