O nome Cainguá é a denominação étnica bastante antiga e genericamente atribuída aos indígenas de vários grupos baticola, nhandeva e guaianás. O termo foi utilizado na Argentina para designar os Paí Tavyterá que habitavam regiões próximas aos Mbya.
De acordo com Juan Bautista Ambrosetti em trabalho de pesquisa publicado em Buenos Aires no ano de 1894 e dedicado a Alejandro Sorondo, presidente do Instituto Geográfico Argentino, há um grupo indígena que habita a região de Misiones e são chamados dos Cainguá ou Caiguá, sendo de origem guarani.
Ambrosetti é considerado o pioneiro da etnografia argentina, trabalhou na Universidade de Buenos Aires, onde fundou o Museu Etnográfico da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. As incursões entre estes índios ocorreram neste contexto de busca por peças para o museu.
Tratava-se no século XIX de uma nação poderosa entre 10 e 20 mil indivíduos dispersos por uma vasta região no Alto Paraná, Juitorocai, cercando quase toda a região dos ervais. Em misiones, viviam nos montes San Ignacio e Corpus desde época muito antiga, sendo provável que tenham se deslocado do Paraguai, cruzando o Alto Paraná, oriundos da região de Jesús e Trinidad.
Eram agricultores que cultivavam suas plantações em grupos dispersos ou famílias isoladas, formando aldeias sujeitas a autoridade de um cacique, havendo certa autonomia entre estas unidades (toldos). Ambrosetti fundamenta estas informações com base em visitas realizadas na região dos ervais de Tacurú-Pukú nas aldeias Bigote, São Vicente, Palmira e Angelito, cinco léguas do rio Itaquirí (Itakyry). Um grupo também vivia na mata próxima a um campo de Aguaraiba (Aroeira), próximo de Tacurú (Hernandarias).
Ambrosetti acrescenta que os Cainguá são compostos pelos Apuiteré, Baticolas, Baaberá e os Chiripá. Todos os grupos têm algumas semelhanças, mas são distintos. Uma das distinções é quanto à vestimenta. Informa sobre o uso do Chiripá, um pedaço de tecido envolto ao redor da cintura cobrindo as pernas até a altura dos joelhos. Suportam grandes caminhadas e falam muito baixo.
Com relação ao gosto pela música, os Cainguá são apaixonados, embora poucos saibam tocar instrumentos musicais europeus. Têm ouvido muito apurado e conhecem o tempo, os tons e o canto. Ambrosetti registra o caso de um cacique Cainguá que possuía 60 mãos de milho, sendo cada uma com 64 espigas, totalizando 3.840 espigas. Manuel Romero, padre, queria comprar o milho, oferecendo ao cacique ponchos, machetes e outras ferramentas, mas este se recusou a fazer negócio mesmo com a oferta aumentada. Só mudou de ideia quando soube do violão que o padre tinha no seu rancho. O violino também era apreciado e fabricado artesanalmente pelos Cainguá.
Ambrosetti descreve outros instrumentos musicais manuseados pelos Cainguá:
Flautas feitas de taquara fina com 30 centímetros de comprimento e 2 cm de largura com furos feitos com fogo e perfeitamente circulares para produzir um som suave.
Apitos de taquara com 30 cm de comprimento e 1 cm de largura com cinco orifícios diminuídos com cera e tocados como clarineta.
Taquarusú, um bumbo de taquara com um metro de altura e 8 centímetros de diâmetro. As divisões internas (nós) são abertas com exceção da última. Este instrumento era manejado pelas mulheres marcando a cadência da dança e da música com batidas no chão.
Porongo de baile (maraca), instrumento geral dos povos indígenas e também popular entre os Cainguás. Há uma variedade muito grande nos desenhos e formatos, sendo adornados com penas, sustentado por uma pequena haste em uma das laterais com grãos de milho no interior. Este instrumento era utilizado somente pelos homens, segundo Ambrosetti (1894).
O etnógrafo descreve que os homens, desde que comprovassem ao cacique que eram agricultores competentes e bons produtores de milho, podiam casar, chegando a ter mais uma esposa. Eram bastante hospitaleiros a ponto de oferecer a própria rede para o convidado sentar, esperando reciprocidade quando visitavam alguém. Registrou também o grande respeito que tinham pelos mais velhos, além de quase não castigarem os filhos. Registrou que as mulheres fiavam, teciam, cozinhavam, fabricavam cestos, traziam água e lenha e colhiam alimentos, enquanto os maridos caçavam, pescavam, obtinham mel e preparavam a terra para o plantio.
O relato traz também um esboço do sistema numeral Caingua, baseado em um conjunto de cinco, conforme informe de Pedro Anzoategui: 1 Peteí; 2 Mocoi; 3 Bojapuí; 4 Mocoi meme e 5 Peteí ñaiñeroi. Outro registro importante é o uso do tembetá, o adorno masculino recebido pelos meninos durante a iniciação e símbolo distintivo do grupo. O objeto é feito de um cilindro de madeira ou “âmbar missioneiro”, inserido num orifício no lábio inferior e projetado para baixo.
O importante registro histórico de 88 páginas sobre os índios Cainguá pode ser consultado na íntegra em boa resolução na biblioteca virtual www.etnolinguistica.org
AMBROSETTI, Juan. Los Cainguas. Buenos Aires, 1894.
AMBROSETTI, Juan. Primer y Segundo Viaje a Misiones. Buenos Aires: Editorial Albatros.
Grupo de índios Caingua In AMBROSETTI, Juan. Los Cainguas. Buenos Aires, 1894.
Mbaraka In AMBROSETTI, Juan. Los Cainguas. Buenos Aires, 1894.