Quando Kuarahy hospedou-se na casa da Coruja, Yrukure’a, foram pescar juntos à noite na casa da mãe do sol, Ha’i, onde ela mantinha um grande roçado chamado de Nhandesy Kokuê Rusugui.
Chegando à casa, começaram a pescar e a coruja jogou o anzol e depois voou para recolher os grilos em forma de peixes que moravam na cobertura de capim da casa da mãe do sol. Assim que ouviu o barulho da coruja, a mãe já gritou: - são vocês novamente, corujas de olho grande, cabeça suja e eu com saudade de meus filhos.
Neste momento, o sol reconheceu a voz de sua mãe. A coruja disse que ela sempre dizia a mesma coisa durante suas pescarias. O sol pediu que jogasse novamente o anzol e desta vez gritasse: ki, ki, ki. No momento que a coruja fez o que pediu, o sol bilhou para ela e a transformou na ave noturna que até hoje voa pelas matas.
O sol chegou à porta da casa e disse Ha’i, como os guarani antigos costumam chamar a própria mãe. – Mãe abre a porta. E a mãe abriu para o filho que havia chegado. Ela ficou tão contente que esqueceu tudo o que estava fazendo. O sol encontrou o Guyra, o espírito de sua mãe, pois o corpo dela havia sido devorado pelas onças. Ha’i estendeu uma rede, Kyha, que tinha tecido para o seu filho descansar. Havia outra rede somente para Jasy e mãe perguntou: - onde está o seu irmão menor, Tyvyra? O Sol respondeu: - meu irmão foi levado pelo Yrutau quando estava dormindo na margem do rio. Vou descansar bem na sua casa e depois vou buscá-lo.
O sol ficou três na casa de Ha’i e voltou à margem do rio onde seu irmão havia sido levado. Chegando lá, ficou esperando na margem. O Nambu chegou e perguntou ao sol: - o que está fazendo aqui, meu amigo? O Sol respondeu: - o Yrutau levou meu irmão para a outra margem do rio e eu quero ir buscá-lo, mas não sei como ir até lá. O Nambu disse: - eu poderia te levar, mas meu barco não para no lugar quando eu vôo e você poderia cair.
Logo depois, chegou o beija-flor e fez a mesma pergunta: - que estás fazendo, meu amigo? – o Yrutau levou meu irmão e quero ir busca-lo. Explicou o sol. – Se meu barco fosse grande eu o levaria.
Depois do beija-flor, veio o Urubu. – Que está fazendo meu amigo? – Quero buscar meu irmão que foi levado pelo Yrutau. – Eu não páro quando vôo e você pode cair.
Depois do Urubu, o Jacaré chegou e ofereceu-se para levar o sol: - pode subir, eu o levarei agora. O Sol subiu sobre suas costas e começaram a cruzar o rio, mas na metado caminho o Jacaré lhe disse: - responda-me se tenho olhos feios e costas enrugadas. O Sol pensou que se falasse isso, seria devorado. Não, disse o Sol, você é meu amigo. Pouco depois, o Jacaré insistiu: - diga que tenho olhos e costas feias. - Não, você é meu amigo, insistiu o sol. Quando o Jacaré começou a voltar, o sol teve certeza de sua má intenção. Pediu o que o Jacaré passasse sob uma árvoré, onde o Sol agarrou-se num galho e escapou das costas do Jacaré. Apenas então disse: - Jacaré dos olhos feios, costas enrugadas, dentes tortos e cabeça chata. O Jacaré ficou furioso e começou a correr atrás do Sol. Quando já estava alcançando, o Sol viu umas pessoas que estavam pescando com cipó venenoso para embebedar os peixes. Eram as Garças, Guiratî Kuéra, e os Tuiuiús, Tujuju. O Sol pediu socorro e o Tuiuiú o escondeu debaixo de uma cesta. O Jacaré chegou e perguntou se havia visto alguém passar correndo por ali. Todos negaram e o Jacaré seguiu adiante. Logo voltou e acusou os pescadores de mentirosos, pedindo para olhar embaixo da cesta, mas o Tuiuiú o ameaçou com sua flecha que trazia em seu bico. O Jacaré ficou com medo e correu para a água. Foi então que o sol saiu debaixo da cesta e brilhou para ele, transformando-o no animal que hoje conhecemos.
REFERÊNCIAS E FONTES:
AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.
NOTAS:
Tags: Chirinõ, Yruvu, guiratî, há’i, jakaré, tujujú, yrukure’a
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