Quando a mãe dos gêmeos chegou à casa das onças, elas se ajuntaram, mataram a mãe dos meninos, a picaram e acharam os filhotes que a mãe do Sol (Pa’i Kwara) tinha. As onças comeram a mãe do Sol, segundo relato do ancião Cirilo Rossate.
Após o banquete, disseram: - vovô, aqui estão os filhotes. Tragam para comermos com farinha, responderam a velha onça e seu marido. E levaram para a avó das onças as duas crianças.
Logo em seguida, prepararam uma panela com água quente, onde jogariam Pa’i Kuará. A velha onça queria cozinhar para comer, mas o Sol secou a água. Jogaram mais água, mas secou de novo. Então as onças espalharam carvão e jogaram o Sol sobre as brasas, mas Pa’i Kuara apagou todo o fogo.
Depois disso, a onça velha disse: - talvez este menino pode ser meu animal, eu vou cria-lo como meu animal. Então, o puseram sobre uma peneira, tapekwa, e deixaram no canto. Neste lugar, as velhas onças estavam comendo a mãe do sol. Comeram os pés e as mãos com a farinha.
Quando as onças foram ver Pa’i Kuará, que foi criado como animal da velha onça, o menino já tinha feito um arco, gwyrapa, grande com o talo, pindo kangwe, da folha do pindó. O Sol achou uma maneira de sobreviver. Fez seu arquinho e uma flechinha também. Os grilos se juntavam no menino.
Quando os grilos se juntavam sobre os meninos, eles já atiravam com suas flechas, o Sol e a Lua, Jasy. Os irmãos começaram flechando os grilos, mas no segundo dia já andavam pelos cantos e matavam insetos, kyju.
O Sol e Lua já andavam juntos e as onças viam que já estavam comendo. Onde está nosso aninal, vovô? Perguntavam as onças. – Estão ali, respondi o avô. Estão matando grilos e vão como nossos animais, falavam os que devoraram a mãe dos meninos.
Pouco tempo depois, os meninos andavam pelo terreiro e flechavam gafanhotos. Os meninos já sabiam fazer arco com botoque para caçar passarinhos. Os meninos já andavam mais longe e matavam muitos animais. Fizeram até um coqueiro, mbokaja, e não queriam que ninguém mexesse no seu coqueiro, pois os frutos desta árvore eram os bodoques dos gêmeos. Para que ninguém mexesse nos coquinhos, encheram a árvore de espinhos, hatî.
Os gêmeos já tinham a sua reza própria, nhembo’ê, para benzer a flecha e matar os pássaros com facilidade. Nesta época, seu arco já era maior e um irmão dizia para o outro: - vamos matar passarinhos, meu irmão. Andavam por muitos lugares com seu arco benzido. Matavam passarinhos com facilidade. Faziam gestos que atraiam muitos pássaros para suas flechas e para alimentar a avó que estava cuidando deles. Após cada caçada, os gêmeos traziam muitos passarinhos para a velha onça.
Nestas caçadas, os gêmeos descobriram uma mata onde havia pássaros que falavam, gwyra nhe’ê katu amba. Encontraram um antepassado do Jacu, Jaku Ypy, no lado do sol poente. Na tarde deste dia, trouxeram muitos passarinhos.
A onça avó não queria que os gêmeos fossem para o lugar dos passarinhos que falavam, mas no dia seguinte, os meninos voltaram lá. No caminho, colheram um cacho que coqueiro para atirar no arco e enchera a sacola de bodoque.
Nesta caçada, os gêmeos fizeram um riacho bem pequeno e que deu origem ao mar como conhecemos hoje.
REFERÊNCIAS E FONTES:
AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.
Garcia, Wilson Galhego; Ribeiro, Aniceto. Cinco versões dos mitos dos gêmeos entre os Kaiová, Terra Indígena, n. 82: 11-201. out 2000.
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