A epopeia dos gêmeos tem muitas versões. Cada uma destas narrativas enriquece, complementa e atualiza as demais. Uma delas foi contada por Rosalina Medina, uma anciã kaiowá da região da Aldeia Panambizinho, Dourados, MS.
Quando a abelha, mamanga’i, ferrou a mão de Ha’i, a mãe do sol, esta não lhe deu mais flores e seu filho ficou sentido, nhemoyrõma. Quando sua mãe perguntou por onde nhanderu, o pai, tinha ido, o Sol indicou o caminho que levava à casa das onças, jaguaretê.
Quando a chegou à casa das onças, a mais velha disse: - está chegando carne em nossa casa. A onça trouxe uma vasilha de barro, nha’eû, colocou sobre a mãe e deixou no canto da casa. À noite chegaram as outras onças primitivas, que naquele tempo eram gente, e já sentiram o cheiro da mãe dos gêmeos. As onças mais novas têm o faro muito bom e naquele dia não tinham caçado nada. Perguntaram à sua mãe: erereko katuko há’i já’u va’erã? Quem há para comer? – Não tenho nada, respondeu a mãe. As onças não acreditaram e saíram farejando pela casa.
Não demorou para achar a vasilha, levantá-la e achar a mãe dos gêmeos embaixo. As onças a mataram com uma batida na cabeça. Assim, o corpo terrestre de Nhandesy não chegou onde estava Nhande Ramõi Papa, somente a alma dela seguiu.
Os gêmeos que ainda estavam no ventre da mãe eram chamados de ipêy. As onças disseram à sua vó: - a mulher tem dois filhotes, ipêy. - Tragam eles para espetar no kwarepotî, meu espeto de arame. Vou espetá-lo para assar. Neste momento, como ainda não era o momento de Pa’i Kwará morrer, sua pela endureceu como pedra, itá rami ipiré. Tentaram espetar o irmão mais novo, a Lua, mas aconteceu o mesmo. As onças disseram que os meninos queriam crescer como criados das onças.
As onças não desistiram, ferveram água e jogaram os dois meninos, mas eles saltavam para o outro lado e as onças decidiram criá-los, deixando-os no canto da casa. Neste momento chegavam os grilos e o mais velho fez um arquinho, guyrapa’i, para matar os grilos, pois muito espertos. Era bom cheiro do corpo dos gêmeos que atraia os grilos, he pe itîu rehe kyju oisu’use ixupe, mas os insetos eram mortos com o arquino do nosso Xiru Pa’i Kwará e seu irmão menor, a lua, tyvyry Jasy.
REFERÊNCIAS E FONTES:
MEDINA, Rosalina. Mito dos Gêmeos. Amambai: Revista Terra Indígena, 1970;
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