O mito, ao contrário do que afirma o senso comum, é uma narrativa tradicional sobre o passado. Saber o que são é um desafio, pois protegem significados misteriosos sob análises, definições e explicações complexas.

Os mitos são encontrados em todas as sociedades e funcionem de diferentes maneiras em cada uma. Podem tentar explicar a origem do universo e da humanidade.

Um dos mitos mais contados pelos Guarani é o Mito dos Gêmeos. Esta narrativa possui muitas versões, sendo algumas muito antigas e registradas no século XVI por Andre Thevet. Após a criação da nova terra, seus primeiros habitantes foram o irmão mais velho e o nosso irmão caçula, ambos filhos da esposa do grande deus nosso pai, Nhanderuvusu. Mais tarde, os meninos transformar-se-ão: o primeiro no Sol, e o segundo na Lua. São inapropriadamente chamados de Gêmeos, pois têm pais diferentes.

O parentesco guarani é patrilinear. A criança descende da linhagem paterna. O pai de Futuro Sol, Pa’i Kuará, é o deus Nanderuvusu. O da Futura Lua é uma outra figura divina, Nanderu Mba’ekuaá, Nosso Pai que sabe as coisas. Ele aparece desde o início do mito e engravida a mulher já grávida de seu marido e depois desaparece completamente.

Quando a mulher, irritada com seu marido, conta-lhe o infortúnio do qual é vítima. Ele decide deixar a esposa infiel e abandonar a nova terra à própria sorte. A ruptura entre o divino e o humano está desde então definitivamente consumada, a história dos homens encontra nela seu verdadeiro ponto de partida e começa, se assim podemos dizer, mal.

O espaço do divino, yvy marane’y: a Terra Sem Mal, e o espaço do humano, yvy mba’emeguá, a terra imperfeita, separam-se neste momento, passando para patamares exteriores, yváy, um do outro. O esforço existencial da humanidade consistirá na abolição dessa separação, em tentar transpor esse espaço infinito que os mantêm afastados dos deuses mediante migrações, jejuns, danças, preces, meditação, fundamentos da prática e do pensamento esotérico guarani.

O mito dos Gêmeos conta, em sua versão mais completa, a longa sequência das aventuras dos dois meninos.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Araçatuba, 1991.

CLASTRES, Pierre. A fala sagrada.Campinas: Papirus, 1990.

MINDLIN, Betty. O fogo e as chamas do mito. ESTUDOS AVANÇADOS 16 (44), 2002.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma adotada pelas fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
  4. Metadados: Mito dos gêmeos, kuarahy, jasy, Pa’i Kuará, Nanderuvusu, Nanderu Mba’ekuaá. Imagens: Guarani e Kaiowá de Paranhos, Professores. Guarani Rembi’uete. Dourados (MS): ASIE, 2019.

 

Tags: Kuará, Mba’ekuaá, Mito, Nanderu, Nanderuvusu, Pa’i, gêmeos, jasy, kuarahy

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