As histórias do Jaguaretê, a Onça, são numerosas, antigas e conhecidas em muitas aldeias. Isto indica que o Jaguaretê e sua natureza são velhos conhecidos dos povos indígenas, provavelmente, desde que o tempo em que os gêmeos Sol e a Lua caminhavam pela terra.

Este relato foi coletado na Aldeia Teý’ikuê, município de Caarapó, MS, e foi registrado pela estudante indígena Rosa Vilhalva com o kaiowá João Vilhalva. Segundo o ancião, a Onça e o Tamanduá, Kaguare, estavam na floresta conversando:

- vamos brincar ?

- vamos. Qual é a brincadeira ? Perguntou o Tamanduá, Kaguare.

A onça respondeu: - o jogo é o seguinte. Vamos jogar os olhos para cima e quem pegá-los primeiro será o vencedor.

E começaram o jogo. A Onça tirou os olhos e o Tamanduá também. Contaram até três e jogaram para cima. Os olhos do Tamanduá cairam primeiro e quando ele os pegou, sabendo que havia ganho o jogo, foi embora.

O tamanduá não sabia que os olhos da onça não haviam caído e a onça preocupada andava para todo lado, batia nas árvores e não sabia mais onde procurar. Cansada, deitou e dorminou. No dia seguinte, o Perdigão, Ynambu Gasu, estava passeando pela floresta, achou a comadre deitada embaixo da árvore e perguntou:

- olá comadre, o que faz aí sozinha?

- fiz uma brincadeira boba com o Kaguare, perdi os olhos e agora estou com fome e sede, reclamou a onça.

- eu posso ajudá-la, mas terá de prometer que não irá me caçar quando recuperar a visão.

A onça respondeu: - nunca caçarei nem perto de você, comadre.

O Ynambu Guasu começou a procurar e achou os olhos bem longe dali. Voltou voando e no caminho colheu remédio para os olhos da comadre. Chegando de volta, encaixou os olhos da onça, colocou o colírio e a onça voltou a enxergar.

- Muito obrigado, minha amiga. Por onde andar à noite ou de dia, você cantará para que eu saiba onde está e mude de direção, agradeceu o Jaguarete.

O sr. João Vilhalva esclareceu que o canto do Ynambu Guasu à noite indica que a onça está por perto, pois está avisando a comadre para ir em outra direção.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

VILHALVA, João. Jaguaretê. Caarapó: Terra Indígena Teý’ikuê, 2019;

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: Jaguarete, Kaguare, Ynambu Guasu, Joao Vilhalva, Rosa Vilhalva, Te’ýikue, Caarapó. IMAGEM: RUELLAN, Gabriela. Rhynchotus rufescens. Buenos Aires, 2011.

 

 

 

 

Tags: Caarapó., Guasu, Jaguarete, Joao, Kaguare, Rosa, Te’ýikue, Vilhalva, Ynambu

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