O DONO DO CANTO SAGRADO

[neimar machado de sousa]

Quando alguém tinha um pedido especial a ser feito durante o Jeroky, a dança ritual, o cacique devia instruí-lo como deveria proceder. Os pedidos são entregues cantados a Nhandejara.

O rezador, Nhanderu, era responsável pela escolha e preparação do seu sucessor. Antigamente não era fácil encontrar o substituto e hoje ainda está mais difícil, assegurou o ancião Aniceto Ribeiro.

O sucessor escolhido era preparado pelo próprio cacique para sucedê-lo após falecer. Nem todo mundo poderia ser escolhido para ser cacique. Entre os trabalhos do Nhanderu, estava o de soprar as doenças e curar os pacientes.

Procedendo assim o aprendiz, Yvyra’ijá, tornava-se um cacique. Se mais de uma pessoa tivesse um pedido semelhante a ser feito, o aprendiz deveria limpar um local não frequentado, levantar um altar (yvyra’i) e dançar. Após seis dias, o aprendiz deveria procurar seu professor, o Nhanderu, para saber quando o pedido seria atendido.

Saber quanto o pedido seria atendido era importante para o preparo dos próprios corpos. Os pedidos não são atendidos de qualquer modo. Esta preparação é necessária para que os cantos (porahei) certos venham até os aprendizes sem qie ninguém os ensine. Estas pessoas eram chamadas pelos antigos kaiowá de os donos do canto. Upeape yma gware ohenoi porahei’y.

Nesta fase, alguns alimentos eram proibidos. Era preciso ficar mais leve e, por isso não comiam carne de animais grandes. Hete vevui hagwã ha’ekwera ndo’ui so’o tuixava.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

RIBEIRO, Aniceto. GALHEGO, Wilson. Jeroky. Assis: UNESP/Revista Terra Indígena, 2001. P. 392.

 

NOTAS:

1. Pesquisa, organização e adaptaçao: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação (UFSCar) e pesquisador (FAIND/UFGD). Karai Nhanderovaigua. E-mail: [e-mail]
2. O artigo tem objetivo educacional e formato adaptado às mídias sociais.
3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue as fontes consultadas.
4. Metadados: Nhanderu, yvyra’ija, Jeroky. IMAGEM: GONÇALVES, Claudia. Ka’aguy Póra’i. Dourados: UFGD, 2018.