O ancião kaiowá Aniceto Ribeiro explicava que o caminho de luz (tape rendy) é o mais difícil de caminhar e demorado para descer. Sua vinda tinha de ser pedida, mas nem todos conseguiam segui-lo, apenas os preparados nas danças rituais (Jeroky).

Este caminho chegava como um relâmpago na hora em que todos estavam dançando lado-a-lado. Os que não estavam preparados ficavam. Sempre havia alguns que se elevavam e estavam preparados. De cada grupo, subiam apenas uns cinco ou seis e os demais ficavam todos.

Percebe-se no relato de Aniceto a atualidade da crença na prática dos rituais, na adoção das prescrições alimentares, na obediência às orientações dos líderes religiosos (opurahéiva) como condição para trilhar o caminho iluminado até a terra sem males (Yvy Akandire).

O questionamento da realidade presente e a convicção de que a bem-aventurança está num lugar e tempo futuro (yváy), já habitado pelos antepassados, lembra a uma cosmovisão implícita nas declarações do cacique Seattle, em 1855: “O homem branco não compreende nosso modo de viver. Para ele, nenhum pedaço de terra é diferente do outro. De uma coisa temos muita certeza: a terra não pertence ao homem. É o homem que pertence a terra. Todas as coisas estão interligadas, como sangue que une uma família”.

Um destes patriarcas indígenas que seguiu o caminho iluminado ao encontro dos antepassados (ypy kuéra) foi Pa’i Chiquito Pedro, lembrado até hoje como patrono de uma escola indígena na Terra indígena Panambizinho, no município de Dourados.

É Paulo Suess quem interpreta que a terra para o índio é seu chão cultural, habitada por tradições, referência básica dos valores vitais, prenhe de mitos e campo da história. A terra sem males e o caminho até ela representam o círculo vital destes povos onde o índio se reconhece parte da natureza que cobre essa mesma terra com o destino que não diferente dos demais habitantes da terra e que também viajam (ovyasa) em busca do lugar incorruptível que nunca adoece.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

Kaiowá da Terra Indígena Panambizinho, Professores, Alunos e Mestres Tradicionais. Pa'i Chiquito Karia'y Ramõgwarê. Dourados/MS: Ação Saberes Indígenas na Escola, MEC/UFGD, 2019.

RIBEIRO, Aniceto. GALHEGO, Wilson. Explicações. Assis: UNESP/Revista Terra Indígena, 2001. P. 396.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa, organização e adaptaçao: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação (UFSCar) e pesquisador (FAIND/UFGD). Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem objetivo educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue as fontes consultadas.
  4. Metadados: Yvy Akandire, tape rendy, ypy kuera, yvyrasa. DESENHO: Kaiowá da Terra Indígena Panambizinho, Professores, Alunos e Mestres Tradicionais. Pa'i Chiquito Karia'y Ramõgwarê. Dourados/MS: Ação Saberes Indígenas na Escola, MEC/UFGD, 2019.

 

 

Tags: akandire, kuera, rendy, tape, ypy, yvy

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