Kurt Unkel Nimuendaju, alemão de nascimento e índio por vocação, nasceu na cidade de Jena, na Turíngia. Veio ao Brasil em 1903, deixando seu trabalho na indústria ótica Zeiss, atrás de seu sonho de criança, conhecer e estudar os índios da América do Sul.

No Brasil, tornou-se um dos maiores estudiosos dos índios deste país. Sua maior contribuição à salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro foi o mapa etno-histórico editado pelo IBGE em 1980 – que localiza 1.400 grupos étnicos pertencentes a 40 troncos linguísticos –, bem como pelo detalhado registro de mais de cem línguas indígenas e uma coleção de mitos, lendas e tradições. Kurt Unkel foi batizado Nimuendajú pelos índios.

Em 1905, dois anos depois de aportar no Brasil, passou a viver entre os índios guarani-apapocuvas, no estado de São Paulo. Deles ganhou o nome Nimuendaju, “aquele que constrói o seu próprio lar". Este povo inaugurou sua carreira científica que durou até 1945, quando faleceu em 1962, numa aldeia Ticuna, no alto Solimões.

Nimuendajú não teve formação universitária. Seu sonho de menino foi inspirado nos livros de Karl May, que descrevia com riqueza de detalhes a vida das tribos norte-americanas. No Brasil, visitou 46 tribos em 40 expedições. Seus apontamentos sobre os jês foram pioneiros. Documentou mais de cem línguas com listas de vocábulos que giravam em torno de 600 a 800 palavras. Seus estudos incluíam ensaios gramaticais e estudos comparativos.

O etnólogo trabalhava de maneira incessante e obsessiva. Fazia o que chamamos de ‘antropologia de urgência’, privilegiando grupos ameaçados de extinção", de acordo com linguista Charlotte Emmerich, professora do Departamento de Antropologia da UFRJ. O acervo do pesquisador estava no Museu Nacional.

Uma das suas contribuições é a coleção de lendas e mitos. Seu talento linguístico serviu para garimpar as manifestações do imaginário das tribos. Datilografou mais de 400 relatos, divididos por tribos, datados e muitas vezes comentados. Trabalhando de forma solitária, sem ajuda oficial – sua atuação no Serviço de Proteção aos Índios foi muito breve –, Nimuendaju financiava suas pesquisas vendendo objetos coletados entre os índios para museus estrangeiros e brasileiros.

Seu trabalho de descrever o uso, função e materiais empregados, além de dados sobre o artesão alimentou coleções nos museus de Leipzig e Dresden, na Alemanha, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu Goeldi, de Belém. Muitas destas coleções referem-se a grupos indígenas cuja identidade cultural se perdeu.

Sua obra prima foi o mapa etno-histórico, baseada em dados de quase mil fontes bibliográficas, além das anotações próprias. Demonstra a preocupação em salvaguardar o patrimônio linguístico, histórico, etnográfico e artesanal.

As Lendas da Criação e Destruição do Mundo são uma das monografias mais famosas da etnologia brasileira e dos estudos Tupi-Guarani, escreveu Eduardo Viveiros de Castro. Nimuendajú, após ser adotado pelos Apapocuva, naturalizou-se brasileiro em 1922.

O nome Nimuendajú vem de muendá, fazer (mõ), moradia (endá). O prefixo Ni é um pronome reflexivo e o sufixo Ju, remete a amarelo "amarelo" ou "brilhante". Este sufixo é usado na linguagem religiosa como posposto que remete ao domínio do sagrado, celeste ou transcendental, onde estão seus equivalentes divino-celestes dos seres terrenos.

O livro Lendas da Criação e Destruição do Mundo é uma mistura de obstinação e desencanto dos Apapocuva que Nimuendaju acompanhou em suas migrações na busca de um sonho, e o pessimismo quanto à sorte final dos índios e os resultados limitados de seus esforços em favor deles. Ainda assim, não os abandonou ao longo de quarenta anos de carreira como etnógrafo e indigenista.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

Michahelles, Kristina. O índio alemão. Rio de Janeiro, 2002.

Nimuendaju, Kurt. As Lendas da Criação e Destruição do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1987.

Baruja, Salvador Pane. Curt Nimuendajú O alemão que virou índio no Brasil. Bochum, 2014.

LABHEI. Laboratório de Estudos e Pesquisa em História e Educação Indígena. www.labhei.ning.com

 

IMAGENS:

Baruja, Salvador Pane. Curt Nimuendajú O alemão que virou índio no Brasil. Bochum, 2014.

 

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