Os mitos têm função pedagógica, pois são metáforas que transportam ensinamentos e garantem sua permanência na memória por gerações. O kaiowá Aniceto Ribeiro conta que as histórias eram ensinadas às crianças pelo cacique.

As histórias sobre os animais eram contadas às crianças quando elas perguntavam aos anciãos. Eram instruções dos caciques para facilitar as caçadas. Os meninos começavam a caçar com seus pais e irmãos mais velhos e, à medida que perdiam o medo, começavam a caçar sozinhos.

Antes de sair para as caçadas, os meninos deveriam jogar as folhas secas do quintal para o lado onde irão caçar, não bater em árvores e nunca tocar no Nhandyta’y. as folhas secas jogadas antes de sair para caçar passarinho não pode ser jogadas muito longe para que não voem fora do alcance do boboque.

Há recomendações também antes de pescar. Os nomes de alguns animais não devem ser pronunciados para não atraí-los como o jacaré e Gwairaká. Se estes nomes forem pronunciados, os peixes não virão. Alguns peixes também não podem ser pegos com a mão. Os meninos nunca podem tocar o mandi com a mão, pois na hora do parto suas esposas sofreriam muitas dores.

Alguns pássaros também são proibidos de serem tocados pelos meninos e meninas como, por exemplo, o Piririta, o Anu. Se este pássaro for morto, deveria ser colocado na sacola com uma linha.

Além dos pássaros, as meninas não devem ser tocadas durante a danças nos rituais, pois se os meninos sentirem muito o calor das meninas, ficarão tristes no dia seguinte.

Para que sejam bons caçadores de pássaros, os meninos precisam tomar remédio feito do Pé do pássaro Kavure e Pé do Gavião, Tagwato. Os pais jamais podem bater nas mãos dos meninos, pois se o fizerem, nunca conseguirão matar nenhum pássaro. Um dos cuidados que mãe deve providenciar é que cada menino tenha a sua própria rede, kyha, perto da qual nenhuma mulher deve chegar, nem tocar ou mesmo sentar. A mãe deve erguer e cuidar desta rede para o menino não se torne um homem preguiçoso.

Os pássaros que o menino caçou devem ser sempre assados em varas. Se assim for feito, sempre terão sorte nas caçadas. As penas destes passarinhos também não poder ser jogadas para o ar, pois os pássaros nunca mais chegarão perto nas caçadas. As penas devem ser queimadas. Os peixes e passarinhos não podem ser preparados por outra mulher que não seja a mãe dos meninos.

O lugar em que se pesca deve ser único. Ninguém mais pode pescar no mesmo lugar. O caldo dos peixes não pode ser jogado de qualquer jeito, somente perto do fogo. Os pais devem ensinar aos meninos as rezas, nhembo’e, para serem ditas nos caminhos por onde passam e encontrar os bichos. O primeiro bicho que for encontrado também não deve ser caçado, apenas do seguinte em diante. Este primeiro bicho não é para carne.

Enquanto os irmãos vão caçar, as meninas também fazem seu trabalho, preparando farinha de milho e fazendo mbojape, pão, com batata-doce e cana-de-açúcar, takware’ê.

A caça nunca pode ser consumida por uma só pessoa, pois o dono da casa não mora sozinho, então o bicho não deve ser consumido somente por ele, registrou o kaiowá Aniceto Ribeiro.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

TERENA DE DOURADOS, Professores. Êxetina Uné. Aldeia Jaguapiru, Dourados/MS: Ação Saberes Indígenas na Escola, MEC/UFGD, 2018.

RIBEIRO, Aniceto. GALHEGO, Wilson. Terra Indígena. Assis: UNESP, 2001.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: Gwairaká, Kavure, Tagwato. IMAGEM: Ava Jeroviaha / Guarani e Kaiowá, Professores e alunos (textos e ilustrações). - Amambai, MS: Ação Saberes Indígenas na Escola, MEC, Ed. UFGD, 2019.

Tags: Gwairaká, Kavure, Tagwato

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