A boca desdentada e desdenhada contava o descaso e o abandono em que viviam. Quando menino, sobrevivera no abrigo da missão evangélica para órfãos, a nhanderoga. A denúncia do preconceito vivido junto com os povos originários não se continha em sua garganta oprimida e as suas palavras incomodavam os ouvidos surdos da opressão. Denunciou ao Papa João Paulo II e a outras autoridades o sofrimento de sua aldeia e de todos o seu povo. Foi também na boca que levou os tiros que o ceifaram na maturidade de sua sina, mas, no entanto, o eco de suas palavras não descansou ainda e sobrevive repetindo a pergunta: quando verei a justiça? Quando a terra ficará livre dos males?
Marçal de Souza, indígena da etnia guarani nhandeva, viveu em várias aldeias de Mato Grosso do Sul, entre elas: Jaguapiru (Dourados), Te’ý’ikue (Caarapó), Nhanderu Marangatu (Antonio João). Contou que conheceu o professor Darcy Ribeiro nos anos 40 e até então não sabia a própria história, mas após o contato com o antropólogo e abençoado por Tupã, “teve a mente aberta e reportada a um passado muito distante, onde contemplou a glória de seu povo, uma riqueza muito grande, a nossa cultura, a nossa crença, a vida de índio e a nossa organização”. Tupã’i, como era conhecido, solidário com a dor de seu povo e com os relatos dos caciques, decidiu lutar pelo seu povo, usando a analogia das canoas nas quais deveriam embarcar confiantes para resolver os problemas. Era um grande orador e que defendia a unidade necessária da nação esfacelada e espoliada que tomou a vida dos índios desde que o primeiro explorador apareceu na Baía de Guanabara, iniciando o fim da liberdade dos índios. FONTE: Marçal de Souza. Discurso Semana do índio. Dourados, 1980.
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