O corpo não pode ser separado da mente como pregou a filosofia moderna, muito menos a mente está restrita aos limites do corpo, muito embora lhe seja imanente. Os indígenas falantes da língua guarani têm epistemologias complexas que fundamentam seus conhecimentos médicos.

A doença (mba’asy) está relacionada ao aquecimento do corpo e do clima (haku) e a saúde ao frescor (mboro’y) de ambos, explicou o líder espiritual kaiowá Atanásio Teixeira. Dentro desta concepção, o mundo também está doente, pois esta cada vez mais quente e isto prejudica os seres humanos, as plantas e os animais.

O aquecimento está ligado aos poderes (objetos e vestes) que o sol, kwarahy, o irmão mais velho, primogênito de Nhanderu, possui e foram dados pelos seus antepassados (ypy), quando o Sol e seu irmão, a Lua, foram escolhidos para iluminar o dia, a noite e toda a criação, em substituição do antigo luzeiro, Xiru Arakurá.

O equilíbrio do calor do dia, da noite e das estações do ano dependem da prática de ritual dos nhanderu e nhandesy, os líderes espirituais. Assim, se estes rituais não são mais praticados, sobrevêem cataclismas e as pessoas adoecem junto com o desequilíbrio ambiental e a vida torna-se insuportável.

Os meses de agosto, setembro e início de outubro, em nosso calendário são particularmente sensíveis, pois há um tipo de fumaça prejudicial (aratatinã) que adoece as crianças e todos os demais, sem a devida intervenção ritual dos líderes religiosos. Depois deste período, quando os guardiões se manifestam mediante seus trovões (ryapu guasúa), graves consequências podem advir sobre a humanidade se tudo não estiver preparado pelos nhanderu e nhandesy, os especialistas guarani e kaiowá.

Um dos rituais kaiowá para aplacar o Sol chama-se Aryrovái do Kwarahy, pois estas rezas e cantos invocam os ventos frescos da boa saúde, equilibram as coisas e afastam os males que adoecem a humanidade.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

TEIXEIRA, Atanásio. Aryrovai. Dourados, 2019.

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma das fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
  4. METADADOS: Aryrovai.
  5. IIMAGEM: GONÇALVES, Claudia. Ka’aguy Pórai. Dourados, MS, 2018.

 

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