Os mitos indígenas, como em muitas outras culturas ocidentais, são os precursores temporais e axiomas do pensamento filosófico. A lua, Jasy, é um personagem central nas narrativas indígenas, sendo considerada parente próximo e antepassado da humanidade.

Do ponto-de-vista genealógico, Jasy é filho de Nhanderu e de Ha’i, segundo a narrativa de algumas famílias. Alguns anciãos contram da suspeita de que seria filho de Nhanderu Mbaekuaá. O avô da Lua é Nhanderamõi Jusu Papa e Nhandejáry. Algumas tradições guarani mencionam que Jasy seria filho de Nhanderu Tupã.

Quando a lua, tyvýra, irmão mais novo do Sol, tyke’y, chegou à casa de seu Pai, também conhecido como Nhanderu Pavê e provou quer era seu filho, tornou-se como ela é hoje, após uma prova de fixar uma luz celeste para iluminar os seres noturnos. A lua que vemos no céu noturno seria oriunda do Jeguaká, cocar de Jasy.

Um dos parentes da lua é Jasy Jaterê, o Saci. Algumas famílias Guarani Mbya também contam que a lua nova tem o hábito de lavar o rosto e provocar chuvas torrenciais para tentar limpar a mancha deixada por uma de suas namoradas.

Jasy também seria antepassado da humanidade, ao menos da parcialidade que a reconhece como ascendente, chamando-a de irmão mais novo, tyvýra. Os Apapokúva guarani acreditam que os eclipses lunares são causados pela mordida de uma onça, Jaguaretê Hovy, guardião da entrada do paraíso, yváy, onde mora Nhande Ruvusu.

Embora, muitas narrativas informam que o Jasy era irmão gêmeo de Kuarahy, algumas escolas defendem a impossibilidade de serem gêmeos pela própria terminologia. O Sol, Kuarahy, é chamado de irmão maior, ou mais velho, tyke’y, e a Lua, Jasy, é chamada de irmão menor, ou mais novo, tyvýra. Há uma narrativa, recolhida por León Cadógan, que a Lua foi criada para fazer-lhe companhia nas brincadeiras por Pa’i Retê Kuaray, nome do Sol quando ainda era um menino e vivia brincando no terreiro, okara, da casa das onças, os parentes adotivos que o criaram.

Os anciãos da Aldeia Te’ýikuê, Caarapó, MS, contaram ao professor kaiwá Voninho Benites que a lua nova e minguante, visíveis no oeste (kuarahy reike), são o estado em que Jasy ficou após ser fisgado no anzol de Anhã, o diabo, que, após devorá-lo, descartou seus ossos num poço. A lua crescente e cheia, que sobe da direção (Arayke) leste (Nhande Ramõi Amba), de onde Kuarahy se levanta toda manhã da casa de Nhanderu, é a prova de que seu irmão mais velho está costurando os ossos com linha de caraguatá e reerguendo-a, após a ajuda do Kupi’i.

As histórias de Jasy, também conhecida por Jaci, são uma explicação dos fenômenos naturais que testemunham tradições milenares, segundo as quais os fenômenos da natureza são regidos pelos astros, principalmente a Lua e o Sol. Os gregos acreditavam que havia três luas: Ártemis, o Quarto Crescente, Selene, a Lua Cheia, e Hécate, para as luas Nova e Minguante. Os romanos chamavam a Lua de Diana e a consideravam protetora da caça e da noite.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de Aniceto Ribeiro. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

Cadogan, León. Ayvu Rapyta. São Paulo: USP, 1959.

Nimuendaju, Kurt. As Lendas da Criação e Destruição do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1987.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: jasy, nhande ramõi papa, nhande járy, tupã, yváy, jaguaretê hovy, Pa’i Retê Kuaray, okara, Kupi’i. IMAGEM: ASIE. Guaiguingue. Dourados: EdUFGD, 2019;

 

Tags: Kuaray, Kupi’i, Pa’i, Retê, hovy, jaguaretê, jasy, járy, nhande, okara, Mais...papa, ramõi, tupã, yváy

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