JASY RA’ÝNTEKO OJOVAHÉI HÍNA: A LUA NOVA LAVA SEU ROSTO.

Jasy ra’y nteko ojovahéi luna, diz o camponês paraguaio de Guairá quando as chuvas torrenciais coincidem com a lua nova: é a lua nova que está lavando seu rosto.

Qual a origem desta expressão quando a lua volta a ocupar seu lugar no firmamento? A resposta está nas tradições indígenas. Pa’i Rete Kuarahy, como já sabemos, desejava companhia para brincar no quintal da casa dos Mba’e Ypy, onde vivia. Descendente dos deuses sem o saber, Pa’i possuía a a faculdade de despertar a essência divina latente em todas as coisas. Pegou um galho kurupika’y e criou Jasyrã, a futura lua, que seria seu irmão menor, companheiro de brincadeiras na morada dos Seres Primitivos e, posteriormente, ajudar-lhe nas suas tarefas de guiar os homens, ensinar-lhes as danças sagradas, a diferença entre as frutas comestíveis e venenosas e outras tarefas similares.

Com o tempo, os meninos tornaram-se homens. Na estadia terrena de Pa'i Rete Kuarahy, uma delegação de mulheres queixou-se que eram incomodadas por um sátiro atrevido que as perseguia durante a noite e a tinha a ousadia de querer deitar com elas à noite.

Para identificar o ousado, Pa’i ordena às mulheres que sujem as mãos com uma mistura de goma, resina e cinza de folhas queimadas de takuapi e canas. Quando percebessem a chega do intruso passariam a mão em seu rosto para manchá-lo. As mulheres seguem o conselho e na mesma noite Jasy entrou em silêncio no quarto das mulheres. Uma delas passou a mão no seu rosto com a cola cinzenta. Com medo, Jasy fugiu rapidamente e foi lavar o rosto, mas sem sucesso, pois a cinza estava mistura com cola.

Após este episódio, o astro da noite e das mulheres obedeceu ao irmão maior e ascendeu ao Paraíso para ocupar o seu lugar. No entanto, assim que começa a brilhar as manchas de seu rosto começam a aparecer, entregando sua luxúria. Jasy faz chover torrencialmente num esforço desesperado para se livrar das manchas. Por isso estas chuvas são chamadas de ojovahéi Jasy ra’y, a lua nova leva seu rosto.

Os esforços de Jasy foram inúteis, pois são seu castigo foi prometido por Pa’i Rete Kuarahy às mulheres que foram importunadas pela sua lascívia. Muitos anciãos, nhanderu, acrescentam que a intenção de Pa’i era fazer um irmão igual ao sol, mas que a lascívia da lua o fez mudar de ideia.

Outra versão deste mito foi recolhida por Themistocles Pais entre falantes de tupi no Amazonas (Boletín Indigenista, México, abril de 1947), mas nesta versão Jasy era mulher e as manchas resultam do sumo de Jenipapo.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

CONSCIANZA, Roseli. Nhandesy Kaiowá. Aldeia Panambizinho, 2019.

CADÓGAN, León. TRADICIONES GUARANÍES EN EL FOLKLORE PARAGUAYO. FRAGMENTOS DE ETNOGRAFÍA MBYÁ-GUARANÍ. Asunción: Centro de Estudios Paraguayos “Antonio Guasch”, Asunción-Paraguay, 2003.

 

NOTAS:

1 Pesquisa, organização e tradução: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karaí Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com

2 A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma adotada pelas fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.

3 O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.

4 Metadados: jasy, lua nova. Imagens: Giagnacovo, Agustín. Sapium haematospermum. 2016.

Tags: jasy, lua, nova

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