A interpretação dos eclipses da lua ou escuridão da lua está prevista no Mito dos Gêmeos dos povos guarani como presságios de catástrofes e resultado do ataque de animais fantásticos ou do próprio diabo, Anhã, a Jasy, o irmão menor do Sol.

Uma destas histórias conta que os irmãos divinos, o Sol e a Lua, chegaram ao local onde o Anhã pescava. A lua disse para o irmão que estava com fome, então o Sol foi pegar o peixe do anzol do Diabo. O Sol puxava o anzol, retirava o peixe e o Anhã caia para trás. O Sol fez assim por três vezes.

A lua disse: - agora é minha vez. Seu irmão aconselhou que não fosse, mas Jasy não o ouviu. A lua deslizou na água e mergulhou, mas como era descuidado, o Anhã a fisgou em seu anzol. Retirou da água e bateu-lhe na cabeça com um porrete. Levou o seu peixe para a mãe de seus filhos.

O diabo já estava cozinhando a lua quando o Sol chegou em sua casa. – Você quer um peixe, perguntou o Anhã.

- Não quero comer isso, respondeu o Sol. – Deixe apenas um pouco do caldo de milho para mim. – Quanto aos espinhos, não os jogue, pois quero recolhê-los.

Tendo recolhido os ossos, recompôs o corpo do seu irmão, fez com uma Palavra viesse habitá-lo e do caldo de milho fez seu cérebro. Cada vez que a lua desaparece, é porque o Anhã a devorou. Quando ela reaparece é porque seu irmão mais velho a ressuscitou.

Quando a lua se esconde, Jasy Pytu, é porque o Anhã tenta devorá-la e ela se recobre do próprio sangue.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

CLASTRES, Pierre. A fala Sagrada: mitos e cantos sagrados dos índios guarani. Campinas: Papirus, 1990.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa, organização e adaptação: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação (UFSCar) e pesquisador (FAIND/UFGD). Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem objetivo educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue as fontes consultadas.
  4. METADADOS: charia, anhã, jasy pytu.
  5. IMAGEM: GUARANI E KAIOWÁ, Professores e alunos. Mymbañarõnguera. Amambai, MS: Ação Saberes Indígenas na Escola, 2018.

 

 

Tags: anhã, charia, jasy, pytu

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