JANEQUEO
Neimar Machado de Sousa[1]
Janequeo o Yanequén foi uma mulher indígena de origem mapuche-pehuenche. Seu esposo foi cacique de Llifén, morto sob tortura a mando governador espanhol Alonso de Sotomaoyr.
Seu preparo militar e qualidade de liderança ganharam o apoio dos estrategistas militares de seu povo. Chegou a ser nomeada comandante militar encarregada das tropas na região, tendo o apoio de seu irmão, Huechuntureo. Era o ano de 1587 e as ações de guerra estavam muito intensas. Foi responsável pelo ataque mapuche à fortaleza Puchunqui de Nahuelbuta, onde derrotou as forças invasoras.
Quando cansou da guerra, retirou-se para sua casa mais ao sul em Villarica e desapareceu sem deixar rastro. O jesuíta Diego de Rosales afirmou que seu nome era Anuqueupu, que na língua mapudungun significa Pedra negra (Queupu) que assenta raízes (Anin).
Os relatos coloniais mencionam Janequeo como heroína araucana que para vingar a morte do marido toma as armas e executa proezas militares que lhe deram um nome legendário nas tradicionais chilenas. Os informes sobre seus feitos decorrem dos textos do capitão Alonso de Ercilla em sua obra Araucana, carecendo de outras fontes.
A heroína foi e continua sendo muito homenageada pela coragem de vingar a morte do cacique Potaen, seu marido, e obter a liberdade de seu povo em violentos combates à frente de milhares de guerreiros. Mesmo com o questionamento por historiadores posteriores da mitologia em torno de sua biografia, Janequeo nomeia paisagens, ruas, avenidas, acidentes geográficos e até navios da marinha chilena.
Curiosamente, muitos chilenos que reconhecem seu nome não sabem que era mulher. É paradoxal que não haja escritos mapuches sobre Janequeo e as informações que temos decorrem de seus inimigos espanhóis. Quanto mais antigo um fato, maior a chance de diminuir a fronteira com o mito e o personagem se tornar uma figura etérea. As referências à heroína Mapuche estão nas crônicas de Ovalle,
“Histórica Relación del Reino de Chile” e Rosales na “Historia General del Reino de Chile, el Flandes Indiano”. A partir destas fontes a história se popularizou.
A heroína foi apresentada como Juana de Arco da Araucânia e se transformou em um símbolo da resistência Mapuche, tão carente de referências femininas, num contexto social em que as mulheres eram representadas em lugares secundários. A dúvida em relação ao seu nome expressa o papel feminino na sociedade colonial.
A tenacidade desta família guerreira ao avanço espanhol, suas manobras rápidas e letais, causaram grandes perdas aos invasores a ponto do governador Sotomayor difundir a ordem da prioridade a captura de seu marido, depois morto sob cruéis torturas. A esposa, quando se inteirou do ocorrido, buscou solidariedade de seu irmão e o respaldo da comunidade, sendo nomeada comandante. Buscou reforços indígenas do outro lado da Cordilheira dos Andes e reuniu um exército de quatro mil combatentes. Sua estratégia eram pequenos ataques guerrilheiros às colunas espanholas.
Sua retirada deveu-se à uma epidemia de varíola que dizimou seu exército. Segue sendo um dos maiores símbolos mapuches na luta pelos seus territórios, segundo o escritor Fernando Lizama Murphy.
REFERÊNCIAS E FONTES:
UNESCO (org). Chilenas rescatadas del olvido de la historia. EUA: ONU, 2012.
MENCHACA, Mariano José Campos. Nahuelbuta. Universidade de Michigan, 2007.
MURPHY, Fernando Lizama. Janequeo, heroína Mapuche. Chile, 2015.
IMAGENS:
GAVILÁN, Cristián Eleacer. JANEQUEO.
[1] Doutor em Educação pela UFSCar. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
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