Em vista dos mitos, causos e piadas difundidas entre os falantes de guarani sobre o Jaguaretê na Argentina, Paraguai, Brasil e Bolívia, foi constituída uma frente temática especial sobre a trajetória deste ser.
Sua trajetória é análoga a outra registrada na literatura de Thomas Hobbes, a do homem-lobo, aquele que devora e tiraniza seus semelhantes. Os professores guarani nhandeva da Aldeia Potrero Guasu, lugar onde os animais de alimentam, perguntados sobre o caráter do terrível felino, concordaram em falar, mas sem se identificar, pois garantem que a onça os vigia, entende sua língua e costuma vingar-se dos detratores.
Quando o incrédulo pesquisador karai perguntou como isso seria possível, explicaram que o WhatsApp já é antigo conhecido da onça-pintada, pois ela acompanha tudo o que falam sobre ela sobre na tela da palma de sua pata. Argumentaram que o Jaguaretê ao lamber a própria palma, atualiza as informações e acompanha o que comentam sobre ele. Falar sobre este tema, além de muito perigoso, pode levar uma caçada ao fracasso.
O perigo oferecido pelo Jaguaretê já vem desde o princípio da humanidade, pois foram os parentes da onça que farejaram, descobriram o esconderijo e devoraram a mãe de nossos antepassados, o Sol Kuarahy e seu irmão, Jasy, a Lua, garantiram muitos professores indígenas. Os gêmeos, informados pelo Nambu com um bilhete do Xiru Kurusu Nhe’engatu, planejaram a destruição de todas as onças canibais, que naquele tempo eram homens e mulheres, mas uma escapou ao afogamento, saltou para o barranco do rio e foi transformada na onça como a conhecemos, gerando numerosa descendência.
Outro lugar onde a investigação sobre o Jaguaretê levou foi à Aldeia Pirajuí, na cidade de Paranhos, MS, Brasil. Lá, um ancião guarani relatou a origem da primeira onça. Era um jovem que foi banido de sua aldeia e condenado por Tupã pelo assassinato do irmão. Ao deixar a aldeia em direção à mata, ia lentamente transformando-se em bicho e cada vez que se embrenhava na floresta, ka’aguy, mais semelhante ao cachorro, jaguá, seu corpo ficava. Por isso, recebeu o nome de Jagua Rete, ser com corpo semelhante ao cachorro ou cão verdadeiro. Um dos trabalhos atribuídos ao Jaguaretê por Nhanderu Tupã, o criador, foi punir os incestuosos.
Como o Jaguaretê vigia o que dizem sobre ele nas aldeias e nas matas com tecnologia própria, este ser recebeu alguns apelidos para que não perceba as anedotas sobre ele. Entre os apelidos associados ao Jaguarete temos: Xipoka’y, Po Para, Ñande Rymba, Sa Pará, Po Sayju e Camisa Pará. Entre os associados vistos na sua companhia, foram identificados o gato, Mbarakajá, que foi seu professor, o Jaguá, seu compadre, o macaco, Ka’i, alimento preferido, o mosquito, Nhati’û, parceiro de caça, o lobo Aguará e o coelho, Tapití.
Um tipo de Xipoka’y foi avistado no tekoha Te’ýikuê, na cidade de Caarapó, MS. Estava dirigindo um trator em pleno dia, portava armas de fogo e atirava nos índios que caminhavam em direção às antigas aldeias de onde foram expulsos.
As histórias do Camisa Pará não são simples mitos ou lendas, mas o arquétipo de uma realidade histórica que devora e enfraquece os semelhantes, usa de estratégias mágicas para enganar e escraviza os demais mediante uso da força, mas sua história ainda não foi contada por inteira e está longe do fim.
REFERÊNCIAS E FONTES:
COLMÁN, Narcizo R. Ñande Ypy Kuéra. San Lorenzo: Imprenta y Editorial Guarani, 1937.
MACHADO, João. Jaguaretê Avá. Aldeia Bororó: Relato oral, 2014.
SANCHES, Jorge. Jaguaretê Avá. Dourados: Relato oral, 2019.
JORGE, Misael. Jaguaretê. Dourados: Terra Indígena Panambizinho, 2019;
NOTAS:
Tags: camisa, jaguarete, para, pará, po, rymba, sa, sayju, xipoka’y, ñande
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