Na sua caminhada até a casa da mãe, o Sol deixou o irmão menor, Jasy, aos cuidados do Urutau e foi caminhando até chegar ao mar, parárypy. Chegando lá, ficou sentado à beira da água à espera de ajuda para cruzá-lo.
Na margem do rio, o sol perguntava quem poderia ajudá-lo a chegar à outra margem. Chegou o antepassado dos pombos, paloma ypy, e disse-lhe: - eu podia de te levar, mas a minha carregadeira balança muito.
O sol respondeu: - então não precisa me levar, porque poderá me derrubar.
Depois chegou o Pirykwe primitivo. O sol perguntou-lhe: - quem será que pode fazer eu passar onde a mamãe está?
O Pirykwe respondeu: - eu poderia levá-lo, mas a minha carregadeira também balança muito. O sol disse que não precisava levá-lo, pois podia cair.
Depois do Urubu, chegou o jacaré. Este jacaré queria devorar o sol. Se fosse o irmão mais novo, certamente o jacaré conseguiria enganá-lo, mas o Sol era mais velho e esperto.
O jacaré chegou onde estava o sol e se ofereceu para levá-lo até sua mãe:
- Eu posso te ajudar, meu amigo, disse o jacaré, louco para devorar o sol, pa’ikwará.
- Suba nas minhas costas, mas tem uma condição: quando chegarmos no meio do rio, você precisa falar mal de mim, tem de me xingar, dizendo que tenho nariz chato, jacaré feio, bicho do rabo fedorento, bicho da costa enrugada.
No entanto, o pa’ikwará não disse nada. Se fosse seu irmão mais novo, seria devorado.
Quando estavam no meio do mar, o jacaré disse de novo: - agora já pode me xingar, amigo. O pa’ikwará respondeu: - você é meu amigo, por isso não vou dizer isso.
Quando estavam chegando do outro lado, o jacaré insistiu: - pode me xingar, jacaré de rabo fedoranto, seu rabo é como uma faca, olho feio, vai me dizendo.
-Seu amigo nunca falaria isso para você, disse o Sol. – Pode me levar sossegado. O Pa’ikwará ainda iria nos iluminar naquele tempo. Chegando na margem do rio, pisou nas costas do jacaré e saltou dizendo: - seu nariz chato, seu rabo de faca, olhos feios, rabo fedorento.
O jacaré ficou furioso e com mais vontade de devorar o Sol. Vendo aquela confusão, um pescador de nome Tujuju foi até lá. O Tuiuiú estava assando peixe e perguntou ao Pa’ikwará: - o que está acontecendo, por que está correndo amigo?
- Aqueles homens estão correndo atrás de mim, respondeu o Sol.
O Tuiuiú cobriu o sol embaixo de uma cesta grande e colocou os peixes assados em cima a cesta. Logo chegou o jacaré, seguindo o rastro do Sol, e perguntou:
- Um amigo meu não chegou aqui?
- Não chegou ninguém por aqui, respondeu o pescador Tuiuiú.
- Mas eu tenho certeza que ele veio nesta direção, retrucou o Jacaré.
O pescador Tuiuiú já ficou bravo e disse:
- Aqui não tem ninguém. Vá embora antes que eu use minha lança e foi andando em direção ao Jacaré.
O Tuiuiú foi o primeiro guarda do Sol. O Jacaré saiu correndo e pulou na água. Nesta hora, o Pa’ikwará saiu debaixo do cesto e disse:
- Jakare java mokerá, tosysy yvy apy arendaja, yupa javonha ramo kera, mba’e resapepi kytã, mba’e rugwi katῖ, he’i ixupe.
E ali, o Sol falou aos que estavam junto dele: - vou procurar a minha mãe, Ha’i.
REFERÊNCIAS E FONTES:
GARCIA, Wilson Galhego e Ribeiro, Aniceto. Cinco versões dos mitos dos gêmeos entre os Kaiová, Terra Indígena, n. 82: 11-201. out 2000.
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