Os mitos são histórias anteriores e posteriores à escrita que transportam lógicas sociais próprias. Estudiosos os caracterizam como cosmologias particulares, familiares e orais que se relacionam com outras narrativas.

O Mito dos Gêmeos é uma narrativa destas narrativas históricas difundidas entre vários povos indígenas pela América Latina. Segundo a anciã kaiowá Rosalina Medina, quando os gêmeos, o Sol e a Lua, descansavam junto do fogo na casa do antepassado do veado, guasu, ouviram um barulho e a lua já perguntou ao irmão mais velho: - o que é isso?

O irmão menor, a Lua, era muito medroso e disse: - Irmão, aquilo vai nos devorar?

- Não, é a guavira que está chegando, a fruta do veado, respondeu o Sol ao irmão menor.

- No que vamos busca-la, perguntou Jasy.

- Use esta vasilha e traga aqui para eu abençoá-la, orientou o Sol.

Kwarahy, o Sol, abençoou a guavira vermelha, por isso ela é tão doce. Ele abençoou duas frutas: a guavira vermelha, gwavira pytã, e a guavira pequena, gwavirámi, do campo. Já o Guaimbé foi benzido pelo diabo, anhã, por isso não se deve comer muito. O guaimbe e a laranja azeda foram benzidos pelo Anhã.

Depois que o diabo benzeu a laranja, ela ficou azeda mesmo depois de madurar. Esta fruta pode ser consumida no máximo duas.

Os gêmeos também mandaram o beija-flor, mainõ, que contava várias coisas para o Pa’ikwara, mas estava mentindo. O sol sabia que estava mentindo, mas os irmãos estavam em viagem para chegar à casa do pai, Nhanderu.

Após caminhar um dia inteiro, estavam cansados e escolheram um lugar para pousar. O irmão mais novo disse: - eu quero soltar o beija-flor, mainõ. O irmão mais velho concordou e disse ao pássaro: - seja como beija-flor e voe pelo mundo inteiro. Por isso, o beija-flor é rápido como o vento.

No dia seguinte chegaram à casa de Nhanderu, seu pai e criador.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

GARCIA, Wilson Galhego e Ribeiro, Aniceto. Cinco versões dos mitos dos gêmeos entre os Kaiová, Terra Indígena, n. 82: 11-201. out 2000.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa, organização e adaptação: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação (UFSCar) e pesquisador (FAIND/UFGD). Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem objetivo educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue as fontes consultadas.
  4. METADADOS: gwavira pytã, gwavirámi, guasu, gwembe.
  5. IMAGEM: PEDRO, Cleide. Jy’y. Dourados (MS), 2019.

Tags: guasu, gwavira, gwavirámi, gwembe., pytã

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