Este livro relata o significado da dança feminina Siputerena, que é uma dança em que as mulheres festejam a volta de seus maridos para casa. Valorizando a dança, passamos este conhecimento para as crianças.
Sabendo que, na cidade de Dourados MS, na Reserva Indígena Francisco Horta Barbosa, há um pequeno número de pessoas falantes da língua indígena Terena e, como não querem ser um povo que abandonou sua língua, as professoras Terena resolveram escrever em Terena, para mostrar às crianças a beleza de sua cultura e de seu idioma.
FESTA DA ALEGRIA
No mês de abril, a aldeia fica movimentada, pois todos sabem que é o mês de festa na comunidade. Ilinóe é uma menina que tem mais ou menos 13 anos de idade, e, como todas da aldeias com sua idade, aprendiam com os mais velhos os afazeres e as tarefas, como fazer potes de barro, fazer Hihi (bolinho de mandioca) e moer mandioca para fazer farinha. Ilinóe é uma menina muito bonita e tem cabelos longos e negros. Mora com seus pais e com sua avó Tó’ita, em uma casa de pau a pique. Ela acaba de jantar um peixe assado que seu irmão tinha pescado e, de repente, ouve o som do tambor..tum..tum.tum..tum, todos de casa também ouvem. E sua mãe diz:
- Filha, organize a cozinha e depois você vai no ensaio.
- Tá bom, mamãe. Mãe, sabia que eu gosto muito de dançar o siputerena?
- Que bom, filha. É isso mesmo, você tem que se orgulhar da nossa cultura.
Ilinóe ajuda a mãe; e a vó Tó’ita, sentada no cantinho, ouvia a conversa das duas. Ilinóe é sorridente e muito curiosa. Ela diz para a sua mãe:
- Mãe, você também dançava quando era nova?
- Sim filha, eu também gostava de dançar igual como você, agora, e sua avó também gostava de dançar.
De repente, ouve-se a voz da avó, que fala:
- Sim, minha netinha, a nossa dança é muito importante pra nós que somos Terena. Você sabe o significado da nossa dança?
- Não vovó, me conta.
Então, Ilinóe foi correndo sentar perto da sua vozinha para escutar a história:
- Ilinóe, minha filha, antigamente, as crianças e adolescentes não podiam dançar.
- Por que vovó?
- Porque era proibido, só as mulheres casadas podiam.
- Sério? Por quê? – surpreendeu-se amenina.
E a vó Tó’ita explica:
- Antigamente, há muitos e muitos anos atrás, os homens adultos iam participar da guerra , que durava mais ou menos uma semana. Guerreavam porque eles procuravam um lugar seguro, que tivesse alimentos e rio. Quando achavam esse lugar, outros grupos procuravam se apossar dele. Então, tinham que guerrear, e suas espesas ficavam para cuidar da casa e de seus filhos. Quando sabiam que já estava perto da volta deles, elas colhiam os melhores frutos e preparavam a melhor comida, se adornavam com colares de sementes e brincos de penas coloridas e, quando seus maridos se aproximavam da entrada da aldeia, elas corriam e avisavam as outras. Logo se colocavam em fileiras e dançavam ao encontro dos homens para recepcioná-los.
- Nossa, que linda história! Mas vovó, como ficavam as mulheres, quando seus esposos não voltavam com vida?
- Elas dançavam e, ao mesmo tempo, cantavam uma música espontânea, lembrando do seu querido marido.
- Humm... Que triste! - exclama a menina.
- É muito triste, mesmo! – diz a avó. - Mas, mudando de assunto, o significado da nossa dança é de alegria, nascimento e vida. Por isso, dançamos no Dia do Índio , no casamento, no nascimento de uma criança e também festejamos quando colhemos os produtos plantados na roça. Mas hoje, muitas coisas mudaram, as crianças, as moças, as senhoras e as avós, todas podem participar da dança.
- Gostei muito da história vovó. Ainda bem que não é mais proibido.
- Que bom minha netinha! Fico feliz por isso. Agora, vai logo dançar, já está atrasada!
- Tá bom vovó, obrigada. Te amo, vó. Tchau!
ELOKETI OKOVO
Epora koyuhopeti koyuhoti koeku hiyokena senohiko Siputerena. Oposikoati kixoaku ipihea ra exoneti xoko kalivonohiko, vexoa xoko ra pitivoko koahati Dourados - ke, MS, xoko ipuxovoku kopenenoti ya Francisco Horta Barbosa, ako’oyeane axuina xanehiko koyuhoti emou tereno’e, motovati ako’oyea vevaka ra vemo’u, epora koyuhopeti vemouke yutoxopa uti, motovati vexokea kalivonona uti uhe’ekeaku ra kixoku vitukeovo ya vemouke.
NARRATIVA: Guilherme Valério, Edio Felipe Valério.
TEXTO EM LÍNGUA PORTUGUESA: Professores Terena da Aldeia Jaguapiru, Dourados, MS.
TEXTO EM LÍNGUA TERENA: Gerson Felipe Valerio, Lidimara Francisco, Nelson Francisco, Noemi Francisco.
ILUSTRAÇÃO: Celia Reginaldo Faustino, Clarice Celia Echeverria, Cristiane Machado da Silva, Dorcas Massi, Edilaine Fernandes Moraes, Florinda Souza da Silva, Francelina da Silva Souza, Lenilza Flores, Luciane Machado da Silva Guimarães, Odaleia Reginaldo Faustino Souza, Vanusa Vargas
REFERÊNCIAS E FONTES:
Comitê Editorial Cone Sul Ação Saberes Indígenas na Escola. Elókoti okovo = dança feminina/ Comitê Editorial Cone Sul Ação Saberes Indígenas na Escola. -- Dourados, MS : Ed. Universidade Federal da Grande Dourados, 2019. 23 p. : il. color. (Coleção Saberes Indígenas na Escola)
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