O povo-nação Mapuche prepara uma mobilização nacional neste 20 de março em diversos pontos do Chile. A manifestação das organizações originárias é um protesto contra o assassinato do indígena Camilo Catrillanca por Carabineros.
De acordo com Marcelo Catrillanca, pai de Camilo, as manifestações seriam, inicialmente, na região da Araucânia, mas a petição cresceu para outras cidades. Os peticionários, como são chamados, demandam paz, desmilitarização e a livre determinação do povo Mapuche, além da justiça por Catrillanca.
Camilo Marcelo Catrillanca Marín nasceu em Victoria, região da Araucânia (13 de setembro de 1994) e foi assassinado em 14 de novembro de 2018. Era um comunero mapuche, agricultor comunitário, assassinado com um tiro na cabeça pelas costas. O projétil foi disparado pelo sargento Carlos Alarcón, membro do “comando selva” dos Carabineros do Chile, política militar chilena.
O diretor do hospital municipal onde foi atendido Camilo Catrillanca e as professoras que denunciaram o roubo dos automóveis que deu origem à operação policial temem mais assassinatos e pedem uma sessão secreta junto à Comissão de Investigação da Câmara dos Deputados para garantir sua segurança e a lisura na investigação do comportamento Ministério do Interior e dos Carabineros nos fatos. De acordo com o presidente da Comissão, o deputado Ricardo Celis, as docentes apresentam por escrito suas razões para não comparecerem ao depoimento na sessão, pois temem pela sua vida.
Camilo Catrillanca era neto de Juan Catrillanca e filho do líder da comunidade mapuche Ignacio Queipul Millanao, Marcelo Catrillanca. Foi líder dirigente do movimento estudantil do Liceu de Pailahueque e participante dos atos pela recuperação das terras da comuna de Ercilla, na Araucania. Em 2011 liderou os estudantes em Ercilla num movimento de 13 dias que terminou com um acordo para criação de um Liceu Intercultural e aumento do número de bolsas para ingresso de estudantes indígenas. O jovem deixou uma filha de seis anos e a esposa grávida.
O termo comunero, a título de esclarecimento, não se refere a comunista, mas aos camponeses que levantaram contra os nobres castelhanos da Espanha em 1522 para garantir o direito de produzirem autonomamente seu sustento e a permanecerem em suas terras. Esta revolta ficou conhecida como Revolta do Comuneros (1520-1522).
Catrillanca viajava com um adolescente de 15 anos num trator, quando foi atingido pelo tiro na cabeça. Foi levado ao hospital de Ercilla, onde morreu enquanto era atendido. O jovem, única testemunha, foi detido pelos carabineiros, mas a justiça decretou que sua prisão era ilegal. Posteriormente, o adolescente relatou ao Instituto Chileno de Direitos Humanos ter sido torturado pelos policiais e que estava em condições de identifica-los.
A polícia alegava que estava perseguindo ladrões de carro de professoras da Escola Santa Rosa de Ancapi Ñancucheo, em Ercilla. Após as perseguições, os policiais recuperaram os veículos e declararam que Catrillanca não tinha relação com o roubo. A comunidade afirmou que os policiais chegaram disparando rajadas de tiros.
Catrillanca fazia parte da Aliança Territoral Mapuche, um grupo que apontava os Carabineros como responsáveis pelas violências contra os índios em Araucânia. Sua foto consta no banco de dados da inteligência policial como pessoa de interesse para ter todos os passos mapeados, muito embora sua ficha não traga nenhum delito comum ou ato terrorista.
O caso é investigado pelo Instituto Chileno de Direitos Humanos e pelo Ministério Público Chileno em Araucânia. O povo Mapuche compõe uma população estimada entre 700 mil e 1 milhão de pessoas, que vivem no Chile e Argentina. Este grupo resistiu à colonização espanhola por 300 anos nas chamadas Guerras Araucas, mas com a independência do Chile e Argentina tiveram seus territórios muito reduzidos e foram confinados em reservas argentinas e reduções chilenas. O termo Mapuche significa Gente da Terra: fusão de duas palavras, “mapu”, terra, e “che”, gente.
REFERÊNCIAS E FONTES:
Futuro. Mapuches preparan movilización en todo Chile. Chile, 12 mar. 2019. Disponível em https://bit.ly/2HvPwpB
SEPÚLVEDA, Nicolas. Informe policial secreto: Camilo Catrillanca estaba en la mira de Carabineros. Chile: CIPER, 2018. Disponível em https://bit.ly/2FJURdE
IMAGENS:
DURAN, Felipe. Camilo Catrillanca en la toma de la Municipalidad de Ercilla. Chile, 2011.
Bandeira Mapuche.
Tags: catrillanca, chile, mapuche
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