Concluída a tarefa de vingar a morte da mãe que foi devorada pelas onças, Jaguaretê, os gêmeos Kuarahy e Jasy começaram a sua jornada. O corpo de Nhandesy foi devorado, mas seu espírito, guyrá, foi morar no céu.

O lugar onde está a roça da mãe dos gêmeos chama-se Nhandesy Kokue Rusugui. Lá, onde ela trabalha, os porcos do mato são os peões que fazem a roçada e saúva derruba a mata. Estes são os servos do espírito da mãe do sol e da lua. A primeira parte da jornada dos gêmeos é para chegar a esta roça. Começaram a andar pela mata até chegarem à casa do antepassado dos cervos.

Naquela época, o cervo, guasu, ainda era gente e tinha fogo em casa. Como chegaram tarde à sua casa, pediram para pousar e ele deixou. A noite estava fria e os meninos escolheram um lugar para dormir perto do fogo, mas o cervo não deixou e disse: - aí não podem dormir, pois colocarei a minha perna.

E aqui? Perguntaram os gêmeos. Aí também não, pois colocarei minha outra perna. E alí? Ali não, pois colocarei a minha mão, respondia o cervo. E aqui? Continuavam. Aí não, pois colocarei minha cabeça. Naquele lugar também não, está reservado para minha orelha e naquele outro ficará meu traseiro. O cervo não queria que os meninos dormissem perto do fogo. O único lugar que sobrou era bem longe da fogueira.

Antes de dormir, o cervo recomendou: - se acenderem fogueira, façam com cuidado e assoprem devagar para não atrapalhar meu sono. Assim que deitaram, Jasy já queria acender o fogo, mas Kuarahy mandou esperar. À meia noite, Jasy levantou, encostou uma lenha na outra, fez barulho e soprou bem forte a brasa para acender sua fogueira.

O cervo acordou muito assustado e saiu correndo, mas, neste momento, os gêmeos brilharam diante dele e o transformaram no animal que conhecemos até hoje. Os irmãos ficaram de posse do fogo, pois seu dono havia fugido assustado.

No dia seguinte os jovens acordaram e viajaram o dia todo até encontrar outro lugar para passar a noite. À noite, Jasy ouviu um barulho e como era muito medroso gritou para o irmão: - O que está ocorrendo? Agora será nosso fim ! O sol respondeu: - não tenha medo, tyvyra, não é nada. Amanhã de manhã descobriremos quem é.

Quando amanheceu, continuaram caminhando e descobriram quem estava fazendo barulho à noite. Eram os filhos do beija-flor, Xirinõ. Eles estavam deitados sozinhos na rede, seus pais não estavam em casa.

O sol perguntou: onde estão seus pais? Os filhotes disseram: - foram na roça da nossa grande mãe buscar banana. Assim, os gêmeos souberam que estavam perto da roça de sua mãe, de onde o beija-flor trazia frutas e flores de bananeira. Os dois firam esperando para comer banana, pakova, a convite dos filhotes.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma das fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
  4. Metadados: chirinõ, tyvyra, guasu, nhandesy. Imagens: CAVANHA, Lidio; ALMEIDA, Heliodoro. Chirinõ Marandeko. Brasília: MMA, 2003.

Tags: chirinõ, guasu, nhandesy, tyvyra

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