A paca é um dos personagens do Mito dos Gêmeos. Há várias restrições quanto ao consumo de sua carne pelo caçador e sua origem está relacionada à velha onça, mãe de criação do Sol e da Lua.

Os animais comestíveis têm um protetor, um dono, chamada de jára. No caso dos animais, é a Anta, conhecida como Tapir, Tapi’i, Mborevi, So’o Ruvicha e que empresta seu nome à via láctea. O Sol e a Lua, após concluírem sua vingança, no rio Aguaráy, das onças jovens que devoraram sua mãe, voltam-se para a velha onça, que havia caído no mundéu de Jasy.

Quanto os gêmeos voltaram para conferir seu mundéu, verificaram que a velha onça havia caído na armadilha e se transformado em paca. Esta velha onça transformou-se no dono das futuras pacas. A Lua contou ao seu irmão, o Sol, que o mundéu havia pego um animal pintadinho de branco e perguntou como se chamava.

O Sol respondeu: - Akutipáy, jaixa, paca.

A Lua disse: - vou tirar o couro para assar.

- Não faça isso, pois traz mau agouro, explicou Kuarahy, o irmão mais velho. A paca não deve ter o couro retirado e nem deve ser assada, pois pode trazer males para a aldeia. Assim estabeleceu Pa’i Kwará, de acordo com a kaiowá Rosalina Medina. Este animal nunca pode ser assado nem ser posto em assadeira.

Durante a caçada, somente aquela paca perseguida pelo cachorro é que pode ser abatida. Achar mais de uma paca na toca é sinal de má sorte e que você vai morrer, explicou Pa’i Kwará ao irmão mais novo, Jasy.

Depois disso, a Lua foi conferir novamente o seu mundéu e voltou contando ao Sol que havia caído um animal meio azul. Kuarahy pediu que trouxesse para ele ver. Quando a Lua voltou, o Sol disse que era o Pereá, apere’a. A lua queria assar, mas o Sol proibiu, dizendo que este animal não era para ser consumido desta maneira. A lua voltou ao mundéu pela terceira e desta vez era o rato branco que havia caído na armadilha, angujat. Este animal anda nos campos e faz toca como o Tatu. Também não pode ser assado em sua casa, explicou Pa’i Kwará.

Depois destes ensinamentos, o irmão mais velho disse: - vamos, mamãe está nos chamando. Naquele lugar, Pa’i Kwará cantou e dançou a noite inteira. Naquela época, a terra era iluminada por Nhande Ramõi Papa, chamado de estrela guasu. Depois os gêmeos foram para o lugar onde estava a sua mãe junto de seu pai, onde estava a sua alma, ayvukwe, junto do criador, Nhande Ramõi Papape.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

GUARANI E KAIOWÁ, Professores e alunos. Ka’arovapy. Caarapó, MS, 2018. Col. Nhande Rekohatee: Peteῖha.

MEDINA, Rosalina. Mito dos Gêmeos. Assis: UNESP/Revista Terra Indígena, 2000 (1970).

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras indígenas segue a forma das fontes consultadas.
  4. Metadados: paca, agwaráy, jaicha, jaixa, apere’a, So’o Ruvicha, angujatῖ. IMAGEM: GUARANI E KAIOWÁ, Professores e alunos. Ka’arovapy. Caarapó, MS, 2018. Col. Nhande Rekohatee: Peteῖha.

 

Tags: Ruvicha, So’o, agwaráy, angujatῖ., apere’a, jaicha, jaixa, paca

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