Na narrativa histórico-mítica guarani e kaiowá, os irmãos Kuarahy (sol) e Jasy (lua) realizavam uma longa e perigosa jornada para reencontrar seus pais. O local onde sua mãe fez a roça foi apontado pelo beija-flor.

Após comer bananas, pakova, com a família do beija-flor que contou aos gêmeos onde foram colhidas, os meninos brilharam diante deles, transformando-os de homens em pássaros. Estas bananas vinham da Roça Grande da Nossa Mãe, Nhandesy Kokuê Rusugui.

Após saírem da casa do beija-flor, o sol e a lua seguiram caminhando até pararem nas margens do rio para descansar ao final do dia. Ali ouviram uma voz misturada ao barulho de algo que caia no chão: - somente para os meninos de roupa grande. A lua ficou assustada e disse ao sol: - agora será o nosso fim ! - Não se preocupe, irmãozinho, tranquilizou o sol. Amanhã de manhã veremos o que é isso !

Ao amanhecer foram verificar o que fazia o barulho. Era um pé de Guariroba que, naquele tempo era gente. A árvore estava carregada de frutas maduras que, ao cair no chão, diziam “somente para os meninos de roupa grande”, pois apenas os meninos podem comer desta fruta. O sol disse ao irmão mais novo: - coma meu irmão, esta fruta é para nós. Depois que a lua provou da Guariroba, os gêmeos brilharam e fizeram a árvore do modo como nós a conhecemos hoje. Assim o sol ia concluindo todos os trabalhos que seu pai não havia terminado, brilhando e criando plantas e animais. Depois caminharam um dia inteiro até chegarem às margens de um rio onde descansaram.

Era um rio muito grande e o irmão mais velho alertou a Lua: - não durma muito, tome cuidado, porque aqui mora o Yrutau, um pássaro que pode te levar embora na boca.

O irmão mais novo dormiu muito e quando o Sol acordou não encontrou a Lua. O Yrutau havia levado o irmão menor para a outra margem do rio, mas o Sol continuou a caminhar buscando a casa de sua mãe, deixando para buscar o irmão mais tarde.

Pouco depois o Sol chegou à casa de outro pássaro: - É você, meu amigo? Perguntou a Coruja Urukure’á. - Sim, sou eu, respondeu o Sol. – Fique aqui esta noite, convidou a Coruja. Kuarahy estava sozinho, pois o Yrutau havia levado o irmão.

Naquela noite, a Coruja disse ao Sol que iria pescar e Kuarahy perguntou de onde ela trazia os peixes. Da casa de nossa mãe, respondeu. A coruja pescava à noite, pois os peixes eram os grilos da casa de Nhandesy.

Yrukure’a contou a Kuarahy que a mãe os xingava todas as noites que iam pescar e jogavam seus anzóis, pois faziam muito barulho e a mãe reclamava: - aí estão vocês de novo, corujas de olhos grandes e cabeça chata e eu aqui sem dormir com saudade dos meus filhos.

Ao ouvir o relato da Coruja, o Sol resolveu também ir pescar grilos-peixe, pirakyju, naquela noite sobre a cobertura da casa da mãe.

 

REFERÊNCIAS E FONTES:

AQUINO, João. Mito dos Gêmeos. Tradução de João Aniceto. Compilado por Wilson Galhego Garcia. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, 1975.

 

NOTAS:

  1. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua. E-mail: neimar.machado.sousa@gmail.com
  2. O artigo tem finalidade educacional e formato adaptado às mídias sociais.
  3. A grafia adotada para as palavras tupi e guarani seguem a forma das fontes consultadas, acrescidas de acentuação para facilitar a pronúncia.
  4. Metadados: yrukure’a, yrutau, kyju. Imagens: Guarani e Kaiowá, Professores e alunos. G̃uaig͂uingue. EDUFGD: Dourados, MS, 2018.

 

Tags: kyju, yrukure’a, yrutau

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